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O CASO COLLINI (Der Fall Collini)



UMA MERCEDES CINEMATOGRÁFICA


Filme de gênero costuma ser um pejorativo que passeia na boca de muitos intelectuais um tanto radicais que defendem seu cinema de autor contra o domínio americano no mercado cinematográfico, onde utiliza essa arma: filme de gênero. Mas, desde o final dos anos 90, vários diretores de países como a Espanha, Japão, Coréia, França e China entraram com força no mercado justamente neste campo onde os americanos pareciam imbatíveis. E, depois de algumas excursões bem sucedidas nessa batalha, a Alemanha nos apresenta O Caso Collini (Marco Kreuzpaintner, 2019) e este é sim, um filme de gênero. Para ser mais específico, o subgênero Drama de Tribunal com investigação acrescentando a figura do rito de iniciação, outra modalidade muito usada no campo dos gêneros.



No ano de 2001, no hall de um luxuoso hotel, um senhor sai do elevador e se senta em uma poltrona. Parece ser uma cena normal para o local, mas este senhor deixa um rastro de sangue por onde passa. Uma empregada nota que ele está todo manchado de sangue e pergunta se precisa de ajuda. Ele apenas avisa que tem alguém morto em uma suíte e fica ali calmamente esperando a polícia chegar.

A ação pula para Caspar Leinen (Elyas M’Barek), um advogado em início de carreira que aceita a defesa de Fabrizio Collini (Franco Nero), sem saber que ele é o óbvio assassino do poderoso industrial Hans Meyer (Manfred Zapatka) uma pessoa muito importante em sua vida, pois lhe deu muito apoio quando era criança além de ajudá-lo a estudar.


O drama está formado. Caspar é um advogado iniciante, filho de uma imigrante turca com um alemão que os abandonou, precisa defender o homem que matou seu benfeitor e avô de sua paixão de adolescência Johanna Meyer (Alexandra Maria Lara). Para piorar a situação, o advogado de acusação é o famoso e super respeitado Richard Mattinger (Heiner Lauterbach) seu ex-professor e mentor. E o réu não ajuda, pois se recusa a dizer uma só palavra em sua defesa. Sem saber o motivo do assassinato, Caspar parte em uma jornada em busca da verdade onde vai combater a hipocrisia de uma parte da Alemanha que ainda esconde segredos do passado e a força da Empresa de Hans Meyer, agora sob o comando de Johanna que ainda nutre um amor correspondido por ele.



Todos escondem uma história que leva a outra. Assim como ele, que nessa empreitada vai enfrentar fantasmas de seu passado. Ele acaba reencontrando seu desaparecido pai, este um drama mal resolvido que é uma das poucas escorregadas do filme.



O diretor Marco Kreuspaintner (Namorando uma Mulher, 2014) conduz a trama com brilhantismo e sabe muito bem como contar uma história. A fotografia é belíssima e lembra o estilo Neo Expressionista dos anos 80 com tons de dourado e verde para o presente e frios para o passado. O elenco muito bem escolhido conta com uma interpretação emocionante de Franco Nero (Django Livre, 2012), que faz um homem traumatizado munido de uma face de pedra, mas deixando bem claro pelo olhar que ali dentro ruge uma tempestade. Tudo embalado por uma trilha sonora minimalista que está perfeitamente sintonizada com as pretensões do diretor que ainda conta com uma edição sensacional. São incríveis as cenas de pesquisa feitas com edição rápida e justaposição de imagens que transformam esse filme em um espetáculo de eficiência.


Esta produção navega nas águas manjadas do subgênero de Drama de Tribunal. Temos ali algumas cenas já vistas como aqueles discursos inflamados dentro do tribunal. Mas conta com uma história robusta, com reviravoltas bem colocadas e um final emocionante. Por sua eficiência merece esse apelido de Mercedes, automóvel que até tem um papel de certo simbolismo na trama.



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