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O GRANDE GOLPE DO LESTE (Zwei Zu Eins)

Atualizado: 16 de jun.


OS ALEMÃES TAMBÉM TEM SEU “JEITINHO”


por Antonio de Freitas


Comédia alemã escrita dirigida por Natja Brunckhorst (Alles in bester Ordung, 2021), que tem uma carreira curta na cadeira na direção, mas fez sensação nos anos 80 como um dos nomes fortes da grande explosão do Cinema Alemão daquela década. Foi ela, aos 15 anos, a protagonista do famosíssimo e superpesado Eu, Christiane F.,13 anos, drogada e Prostituída (Christiane F. Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, 1981) um filme baseado em no “Best Seller” do mesmo nome que contava a história real da descida ao inferno de uma menina que se vicia em heroína.

Fugindo totalmente do baixíssimo astral de sua estreia no cinema, Natja cria uma história que se passa em um momento extremamente importante da história mundial: A queda da União Soviética e a união das duas Alemanhas, que antes eram separadas pelo muro de Berlim cuja demolição inaugurou oficialmente este evento. E através da ótica dos habitantes da Alemanha Oriental que, até então, vivia sob o jugo dos comunistas. Uma ideia muito interessante com muitas possibilidades de desenvolvimento.


Tudo se passa na pequena cidade de nome Halberstadt, que enfrenta já os problemas causados pela unificação das duas Alemanhas. Tudo está mudando para o modelo capitalista e todos devem atualizar seus documentos, assim como trocar a moeda corrente. A dona de casa, Maren, interpretada pela ótima atriz e merecidamente premiada Sandra Huller (Anatomia de uma Queda, 2023), está envolvida com isso ao mesmo tempo que sonha com a liberdade de viver no novo sistema. O cotidiano de sua família - formada por um marido meio banana, um casal de filhos e sua mãe - é quebrado quando o cunhado volta para a cidade e reencontra um amigo, funcionário público do sistema soviético que tem uma coisa interessante para mostrar. Algo bem inusitado que vai acabar gerando um grande impacto.

E o grupo segue o senhor até um terreno murado onde entram escondidos em uma espécie de bunker onde estão jogadas montanhas de notas do sistema financeiro antigo que já foram trocadas pelos Marcos Ocidentais. Por diversão e aventura resolvem levar vários sacos daquelas notas que, segundo eles, não valiam mais nada. Chegando no apartamento conseguem forrar a sala toda com essas pilhas de notas e estão brincando e achando graça naquilo até que, através de um vendedor de panelas da Alemanha Ocidental, descobrem que aquelas notas ainda valem por apenas 3 dias. E é nesse momento que o filme começa de verdade. Com exceção do funcionário público, todos eles já haviam trocado suas notas e contas bancárias para o sistema ocidental e não podem depositar mais no banco e, assim, ficam com o dilema de como gastar aqueles milhões e se dar bem.


O que se segue é um filme movimentado, com um elenco extremamente eficiente e tipos tão bem caracterizados que ganham a simpatia do espectador assim que aparecem pela primeira vez. Todos eles muito bem dirigidos por uma diretora que sabe orquestrar cenas com vários personagens com ações e falas em sequências em que várias coisas acontecem ao mesmo tempo. Ela peca um pouco por não apresentar direito a cidade e a situação das pessoas daquele país que havia acabado de deixar de existir, além de se valer de uma trilha sonora um tanto intrometida e onipresente, que insiste em criar vinhetas musicais para ações das pessoas.


Não chega a se tornar uma comédia escrachada que arranca gargalhadas da plateia como as de Hollywood, italianas ou mesmo as nossas. Mas consegue ser um filme divertido que captura o espectador com a simpatia e plausibilidade dos personagens que nos leva torcer por eles e até ficar surpresos com o fato que os alemães podem ter também um “JEITINHO” para dar um olé na ética e nas instituições para se dar bem.


 
 
 

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