UMA BOA IDEIA, MAS UMA PÉSSIMA EXECUÇÃO
por Jhuliano Castilho
Baseado em livro homônimo, a cinebiografia do matemático Stanislaw Ulam (1909 - 1984), aqui interpretado por Philippe Tlokinski (The Messenger, 2019), conta a trajetória de uma das grandes mentes da Ciência do século XX: uma história surpreendente sobre como o membro do Laboratório Nacional de Los Alamos, em 1944, ajudou a precipitar algumas das mais dramáticas mudanças do mundo do pós-guerra. Ele foi um dos primeiros a utilizar e defender o uso dos computadores na pesquisa científica, originando ideias para a propulsão nuclear, sendo um dos responsáveis pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki.
Um filme que retrata o matemático judeu que desenvolveu a bomba nuclear e a de hidrogênio: ou seja, um tema que por si só, já remeta à ideia de um filme muito interessante, mas esta produção européia cumpre apenas parcialmente o que promete. O escritor e diretor Thor Klein (Lost Place, 2013) recupera esta história desconhecida do grande público, sobre um dos principais autores envolvidos no Projeto Manhattan, que se desenvolveu próximo ao final da Segunda Guerra Mundial.
A história é boa, mas não empolga, graças a atuações medíocres de todo o elenco e diálogos que querem parecer inteligentes e profundos em sua complexidade matemática e metafísica, mas acabam mesmo é por tornar o filme arrastado e chato de doer.
O roteiro escrito pelo diretor falha em fazer justiça ao tema tão perturbador, afinal, aqueles jovens associados ao Projeto Manhattan foram responsáveis pelas mortes ocorridas em Hiroshima e Nagasaki, mas os atores não conseguem transmitir a dor e arrependimento óbvio, devido às atuações robóticas que apresentam.
O filme até dá umas pinceladas na questão dos campos de refugiados e a morte em massa de judeus pelos nazistas, meio que apresentando a necessidade da bomba para ajudar os americanos a derrotarem Hitler como forma de vingança/justiça pelos judeus mortos. Mas o filme acaba deixando tudo isso como um subtrama, não desenvolvendo-o de forma adequada, perdendo boa parte do tempo na apresentação do relacionamento frio entre o casal de protagonistas Philippe Tlokinski (Stanislaw Ulam) e Françoise (Esther Garrel).
Trata-se de um filme de baixo orçamento que foca apenas nos bastidores da trama real do desenvolvimento das referidas bombas. Sendo que nem mesmo a cena em que ocorre o primeiro teste da famigerada bomba é, de fato, mostrada. Tudo fica a cargo apenas de comentários a respeito de como foi o teste, obviamente frustando as expectativas do espectador que espera de fato ver o resultado do trabalho dos cientistas e nada.
Quanto ao histórico à Hiroshima e Nagasaki também, apenas alguns comentários, mas nada de se demonstrar, de fato, os efeitos da bomba. O filme se limita apenas a mostrar um comentário televisivo sobre o que teria ocorrido e a resultante quantidade de mortos.
Tecnicamente, no entanto, o filme até tem seus méritos: o diretor de fotografia Tudor Vladimir Panduru (Cinema, Mon Amour, 2015) e o designer de produção Florian Kaposi dão vida aos locais retratados.
A trilha-sonora composta por Antoni Komasa-Lazarkiewicz (Voltando Para Casa, 2002), é outro ponto alto do filme nos momentos em que está em destaque. Pena que na maior parte do tempo, a trama aposte em longos diálogos sem trilha, tornando o filme sonolento.
Em resumo, O Matemático tinha tudo para ser um bom filme, mas definitivamente não é.
Comentarios