MAIS DO MESMO COM ALGUM CHARME
por Ricardo Corsetti
É, realmente eu já perdi as esperanças de que o anteriormente genial diretor/roteirista Neil Jordan (Traídos Pelo Desejo, 1992), volte a dirigir um grande filme, pois seus últimos trabalhos, claramente, dão sinais de esgotamento de sua obra.
Eis também o caso do apenas mediano Sombras de um Crime, um "neo-noir" bem construído visualmente, mas um tanto sem sal em termos de desenvolvimento de trama.
E a esperança de vermos o veterano Liam Neeson (Busca Implacável, 2008) finalmente fazendo um papel minimamente diferente do que o vemos encarnando nas últimas décadas, também foi frustrada. Pois, apesar da boa matéria prima que ele tinha em mãos dessa vez - viver o célebre detetive fictício Philip Marlowe, criado pelo romancista Raymond Chandler (1888-1959) em The Big Sleep (1939) -, Neeson não consegue se libertar ou ir além dos velhos cacoetes de seus personagens de filme de ação, com movimentos coreografados em cenas de conflito físico absolutamente inverossímeis, diga-se de passagem, para um homem com mais de 70 anos.
Jessica Lange (King Kong, 1976), infelizmente, também decepciona em seu tão aguardado retorno às telas, com uma atuação over e caricata. Obs.: No entanto, é até possível que, neste caso, se trate mais de um erro em ternos de direção pois, provavelmente, Neil Jordan deve ter pedido a ela uma atuação mais "carregada", coerente ao estilo noir em que se desencadeia a trama. Mas, sinceramente, não funcionou.
Sem dúvida, o melhor desempenho no filme, em termos de atuação, é mesmo da sempre ótima e bela Diane Kruger (Adeus, Minha Rainha, 2011), apresentando uma femme fatale de primeira, mesclando humor e drama na medida certa, ao compor sua personagem.
Filme tecnicamente bem realizado, com um belo trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos) em ternos de reconstituição de época, meados dos anos 40 e início dos 50, a era de ouro de Hollywood. Boa fotografia também. Mas é pouco, visto que o desenvolvimento da trama é um tanto capenga, bem como o próprio desenvolvimento das personagens, que carece de um melhor aprofundamento psicológico.
Em suma, Sombras de um Crime representa apenas um razoável entretenimento passageiro para os amantes do universo (literário e cinematográfico) noir, sobretudo.
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