SHYAMALAN EM MOMENTO CHRISTOPHER NOLAN
por Ricardo Corsetti
O mais recente trabalho do diretor M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido, 1998) é claramente comprometido por uma execução equivocada. Ou, em outras palavras, Tempo é um típico exemplo de boa ideia básica desperdiçada por uma execução equivocada em termos de ritmo e fluência narrativa.
Longe do ritmo e cadência narrativa perfeita que caracteriza o já clássico O Sexto Sentido, por exemplo, embora Tempo possua apenas 1 hora e 48 minutos de duração, às vezes pesa como se tivesse 2 horas e meia, devido ao excesso de idas e vindas no tempo (flashbacks) e também a uma certa confusão no que diz respeito aos reais objetivos deste drama familiar que flerta claramente com elementos de ficção científica e horror.
O confuso tema central da trama lembra, inclusive, A Origem (2010) de Christopher Nolan, ao também tentar manipular a suspensão do conceito espaço/tempo, mas, justamente por isso, o filme de Shyamalan carrega os mesmos problemas tipicamente vistos em boa parte da obra do diretor britânico, marcada por uma pretensão pseudo-intelectual que quase sempre gera imensa confusão quanto ao que seria o objetivo primordial de um filme: contar uma história minimamente coerente ao espectador padrão de mega-produções hollywoodianas.
Tempo também peca ao recorrer a muitos estereótipos na construção de seus personagens centrais: o casal em crise conjugal, a mulher extremamente vaidosa, o cientista malvado, etc. Além disso, há também uma evidente preocupação em se adequar às normas do politicamente correto, contemplando praticamente todos os grupos étnicos: o latino (na figura de Gael Garcia Bernal), o oriental, a mulher afro-descendente, etc; na composição do elenco.
O desempenho do ex-galã mexicano Gael Garcia Bernal (Amores Brutos, 2000) como protagonista não vai além de apresentar uma atuação morna e genérica.
Por tudo isso, o que realmente se salva em Tempo é a qualidade técnica da produção, marcada por bons efeitos especiais e bela fotografia. No mais, infelizmente, fica claro que o retorno de Shyamalan à direção, após um considerável hiato, é, em termos gerais, decepcionante, apesar do evidente talento deste indiano que um dia conquistou a "Terra Prometida" chamada Hollywood.
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