TERROR TRASH DE AUTOR
por Antônio de Freitas
O palhaço Art - que é uma mistura dos roqueiros Alice Cooper e Marilyn Manson com o famoso mímico Marcel Morceau (1923 - 2007) - volta em Terrifier 2 (Damien Leone, 2022), uma direta continuação de Terrifier (2016) cuja última cena é o ponto de partida para o início deste novo filme, quando Art ressuscita e logo retoma seu péssimo hábito de trucidar quem aparece na sua frente. Desta vez ele volta como uma espécie de entidade sobrenatural e não como o louco sanguinário do primeiro filme. E não vem sozinho, com ele está uma criaturinha que poderia muito bem ser a sua filha com a famigerada boneca amaldiçoada Annabelle.
E volta com uma produção mais esmerada, que demonstra a confiança que os investidores depositaram nessa personagem que conseguiu abocanhar um monte de dinheiro nas bilheterias e se tornar já um ícone dos filmes de terror. Não chega a ter a honra de estar no patamar de figuras míticas como Drácula ou a criatura de Frankenstein, mas pode ocupar apenas um andar abaixo de Jason Vorhees, o “zumbizão“ homicida da infindável série de filmes com o selo Sexta Feira 13. Mas vai conseguir ser lembrado pelos fãs do gênero e até protagonizar mais umas sequências se esta fizer uma boa bilheteria.
E confiando nisso, o diretor/autor entrega um filme em que se preocupa com a apresentação dos personagens, ao contrário do primeiro filme onde as pessoas apenas entravam em cena para serem esviscerados pelo palhaço louco logo depois. O ganho com a empatia do público ajuda a criar uma história mais consistente, capitaneada pela adolescente Sienna (Lauren LaVera) e seu irmão mais novo fanático por “serial killers” e filmes de terror. É “Hallowen” e Sienna se prepara para uma grande festa, ao mesmo tempo atura a chatice do caçula, que está fixado nos eventos do filme anterior e acredita que Art tem alguma coisa a ver com o falecido pai deles.
Enquanto isso, Art “dá uma falecida” em montes de pessoas, em assassinatos para lá de sangrentos mostrados de forma explícita, com sangue e vísceras voando para todo lado. E estas cenas são o “ponto alto” do filme, que faz sucesso entre os adoradores de “terror podreira” e são o motivo do filme ser divulgado como capaz de fazer os espectadores passarem mal. Distribuindo machadadas, facadas, marteladas pela vizinhança, Art vai acabar enfrentando Sienna, que vai mostrar que não está ali para virar carne moída em um final onde o sangue vai espirrar em todas as paredes possíveis.
Nessa segunda empreitada tentam dar maior consistência à história e personagens, além de conseguir criar uma atmosfera que lembra muito bem os “slasher movies” dos anos 80, contando até com a trilha sonora minimalista de sintetizador. Mas cometem erros como a longa duração do filme, que poderia ter uns 30 minutos a menos com a retirada de sequências inúteis como a de um certo sonho que parece ter sido feita para um choque inicial, mas não assusta porque está claro que é apenas um sonho. E de tramas paralelas como a da palhacinha mostrenga e o irmão de Sienna que só desviam a atenção que deveria estar focada na fúria insana do palhaço e sua adversária, que é até bem defendida pela atriz.
Damien Leone demonstra uma óbvia evolução quando comparamos o primeiro e segundo filme. Com mais recursos em mãos, ele tenta fazer um filme com personagens mais delineados e um subtexto onde satiriza a cultura pop americana com a junção de elementos “kistch” com o grotesco. Dá para notar um estilo pessoal se desenvolvendo e, se continuar se empenhando em melhorar, poderá entregar uma terceira obra mais aprimorada. Por enquanto ainda se apoia em cenas de extrema violência e exposição de sangue aos montes que o colocam na categoria do “trash”. O terceiro filme, que é anunciado por uma cena besta depois dos créditos, se for feito por ele, talvez defina seu destino.
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