top of page

TRIÂNGULO DA TRISTEZA (Triangle of Sadness)



HUMOR CONTUNDENTE


por Ricardo Corsetti


"Nós trabalhamos com algo que tem assegurado a democracia ao redor do mundo: granadas. Anteriormente, nosso principal produto, eram 'bombas anti-pessoais', também conhecidas como, minas terrestres". Eis apenas um pequeno exemplo da fina e deliciosa ironia que percorre toda a trama de Triângulo da Tristeza, filme vencedor da Palma de Ouro, na última edição do Festival de Cannes, escrito e dirigido pelo sueco Ruben Ostlund (The Square - A Arte da Discórdia, 2018).

Toda a hipocrisia que caracteriza o mundo contemporâneo, presente no discurso de "igualdade de gêneros, racial e social" - vendida pelo universo da publicidade e da moda, por exemplo - é aqui desmontada com muito senso de humor, visando revelar que na prática, o que nos cerca diariamente é um reino de preconceitos de toda a natureza, filtrado por muita hipocrisia e afetação.


Destaque para a cena em que uma rica senhora européia, dentro de uma jacuzzi e tomando champagne francês, diz à funcionária do navio que a serve: "No fundo, somos todos iguais". E claro, o desfecho em que temos uma espécie de vingança do proletariado contra seus "cordiais" opressores, também é digna de nota.


A presença da bela e charmosíssima atriz sul-africana Charlbi Dean (Don't Sleep, 2017) - recentemente falecida, aliás - vivendo a top model Yaya, também merece destaque.

Obs.: Ecos de As Invasões Bárbaras (2003) do franco-canadense Denys Arcand, são facilmente identificáveis no humor inteligente e relativamente intectualizado que caracteriza todo o filme.


Obs. 2: Salvo a duração um tanto desnecessariamente longa (2h37 min.), na maior parte do tempo é mesmo uma delícia acompanhar as situações vividas em Triângulo da Tristeza, tais como o hilário embate entre um oligarca do Leste Europeu e o divertidíssimo capitão de navio marxista, vivido pelo sempre ótimo Woody Harrelson (Assassinos por Natureza, 1994).


E você aí, meu caro, já comprou sua "bota de pedreiro customizada" da Balenciaga por módicos 10 mil reais e assim ajudou a tornar o mundo um lugar pior, quer dizer, melhor?



bottom of page