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TRÊS MULHERES: UMA ESPERANÇA (Lost Transport)





UM OUTRO OLHAR PARA A 2º GUERRA MUNDIAL


por Antônio de Freitas


Três Mulheres: Uma Esperança (Sakia Diesing, 2022), merece destaque por fazer parte de um pequeno grupo de obras que apresentam um outro olhar para a 2º Guerra Mundial que, até pouco tempo atrás e com poucas exceções, sempre foi apresentada através do ponto de vista dos americanos e ingleses. E, antes de tudo, com personagens apenas homens e militares, onde a mulher aparecia quase sempre como interesse romântico, esposa preocupada ou vítima esperando ser salva.

Mas este filme quebra o padrão ao apresentar uma história com 3 protagonistas mulheres sendo duas delas civis, assim como o - pouco utilizado - momento do final da guerra no território alemão sob o ponto de vista dos civis.


Em abril de 1945 a Alemanha está desmoronando com a invasão dos aliados e soviéticos que avançam sobre todas as cidades. Como medida desesperada, 3 trens repletos de prisioneiros judeus partem do campo de concentração Bergen-Belsen para fugirem dos aliados e servirem como reféns e moeda de troca. Um deles é abandonado pelos soldados alemães ao lado de uma pequena cidade no campo e é esta a primeira cena do filme quando apresentam a primeira protagonista. É Simone vivida por Hanna van Vliet (Amor Moderno Amsterdã, 2022), prisioneira judia holandesa que está no trem com o marido “banana” e ferido. Ela percebe que estão livres e decide procurar por ajuda. Ao sair do trem, depara com a chegada de uma tropa soviética da qual faz parte a atiradora Vera interpretada por Eugénie Anselin (O Capitão, 2017).

Orientados pelos soldados, eles se dirigem à pequena cidade onde encontram o caos instalado com a ação truculenta dos soviéticos que estupram mulheres, enforcam colaboradores e membros do partido Nazista sem fazerem perguntas. A população é, em sua maioria, de mulheres e muitas delas fogem para a floresta e queimam seus uniformes ou braçadeiras para não serem mortas. Entre elas está uma mocinha que, traumatizada por ter visto a mãe ser morta pelos soldados, se recusa a tirar seu uniforme pardo de estudante nazista. Ela é Winnie, interpretada pela bela Anna Bachmann (Tatort, 2021) que ainda não sabe o que o partido Nazista andou fazendo.

A situação é de caos total com a violência dos soldados, o descaso das autoridades soviéticas, surto de tifo, fome e o pânico que tomou conta dos habitantes e dos recém-chegados judeus. No meio desse inferno as três moças se encontram, não se entendem no início por serem de grupos totalmente opostos e falarem línguas diferentes, mas acabam achando um ponto em comum: elas são mulheres sofrendo por causa de uma guerra criada pela sociedade machista. Assim cada uma delas completa seu arco dramático. Vão se amparar mutuamente e lutar pela sobrevivência.


O filme tem seus acertos e muitos erros. A edição faz cortes abruptos e acaba prejudicando o desenvolvimento da história. Em momentos - que deveria ser mais nervosa - acaba ficando lenta demais. Falta uma caracterização melhor nos figurinos que parecem estar todos muito novinhos, erro que se evidencia nos prisioneiros que saem do trem, pois ali deveria ter roupas rasgadas e sujas, fruto de uma viagem árdua e de muitos maus tratos. Na direção/roteiro dá para sentir a falta de uma apresentação melhor das protagonistas para termos uma ideia dos motivos que as movem. Uma falta de capricho ou sinal de pouca prática da diretora Sakia Diesing que se nota nos momentos de violência e ação mostrados de forma tímida e com pouco resultado em termos de carga dramática. Todos esses detalhes demonstram que ela não soube lidar com um orçamento apertado e a falta de uma equipe especializada.


Mas a ideia e a intenção da história - onde pessoas tão diversas se unem por se reconhecerem como participantes de um grupo que sofre igualmente por serem mulheres em uma sociedade onde quem decide é o sexo oposto - é interessante. Essa proposta se sobrepõe aos erros e acaba nos entregando uma obra repleta de boas intenções que nos levam a novos questionamentos sobre este momento da história.


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