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WIM WENDERS, DESPERADO




por Ricardo Corsetti


A arte do imprevisível

No último domingo (04/10), encerrou-se a 25a. edição do festival É Tudo Verdade, neste ano realizada apenas em versão online, tendo como filme de encerramento Wim Wenders - Desperado, cinebiografia documental acerca do célebre diretor alemão.

E é justamente no conteúdo, muito mais do que no formato do filme dirigido pelo canadense Eric Fiedler (It Must Schwing: The Blue Note Story) e pelo alemão Andreas Frege (vocalista da banda Die Toten Hosen) que reside o grande mérito desta produção.


O formato bastante tradicional de Wim Wenders - Desperado, realizado a partir de muitas entrevistas no estilo "talking heads" (entrevistado sentado em frente à câmera), poderia facilmente cansar o espectador, não fosse pelo teor de algumas dessas entrevistas, entremeadas, inclusive, por belíssimas imagens extraídas da própria filmografia de Wenders.


O grande destaque do documentário, sem dúvida, é finalmente quebrar o silêncio acerca das tumultuadas filmagens de Hammett - Mistério em Chinatown (1982), primeira produção norte-americana dirigida por Wenders.

É interessante ver Francis Ford Coppola (produtor de "Hammett"), apresentando seu ponto de vista sobre o fato, deixando claras as diferenças que caracterizam uma produção norte-americana de uma europeia, por exemplo.


A essa altura, entre outras coisas, passamos a compreender talvez, por que Wenders, desde a época de seu retorno à Alemanha, quando rodou Asas do Desejo (1987), jamais realizou outro filme ficcional da mesma magnitude. 


Apenas no campo do documentário, como no caso de Pina (2011), por exemplo, o cineasta alemão voltou a alcançar nos últimos anos o mesmo êxito criativo visto em seus clássicos filmes ficcionais. Afinal, ficção, salvo raríssimas exceções, é pura previsibilidade, enquanto a linguagem documental, quase sempre, atua no campo do imprevisível. E com certeza é justamente aí que o "artista do imprevisível" se sente verdadeiramente à vontade.





No ano em que alguns filmes brasileiros brilharam, vencendo em suas respectivas categorias, tais como o curta Filhas de Lavadeira de Edileuza Penha de Souza e Libelu - Abaixo à Ditadura de Diógenes Muniz (vencedor na categoria melhor longa ou média-metragem), Wim Wenders - Desperado realmente fechou a 25a. edição do É Tudo Verdade em grande estilo. 

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