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MADEMOISELLE PARADIS (Licht)


Cinema da Crueldade


O drama de época Mademoiselle Paradis, dirigido pela austríaca Barbara Albert (Os Mortos e os Vivos, 2012), realmente impressiona e até causa desconforto pela absoluta crueldade nas relações humanas que caracteriza sua trama, aliás, não apenas nas relações entre as diferentes classes sociais, mas sim no relacionamento entre todos os indivíduos que fazem parte do universo do filme baseado em fatos reais.


Não por acaso, o drama e a exclusão vividas, brilhantemente aliás, pela atriz romena Maria-Victoria Dragus (A Fita Branca, 2009), lembram muito o que vi no ultra clássico filme O Enigma de Kaspar Hauser (1974) de Werner Herzog. Filme também inspirado em fatos reais que é, sem a menor dúvida, um autêntico Tratado sobre a crueldade e incompreensão humana.


Em termos de estilo narrativo, também é possível encontrar semelhanças no cinema praticado por Barbara Albert e seu famosíssimo conterrâneo Michael Haneke. Porém, embora aquela mesma "secura" e objetividade que caracterizam o estilo do velho mestre, não há em Mademoiselle Paradis aquela mesma opção por planos longos e prolongamento da narrativa. Ou seja, me parece que o cinema de Barbara Albert opta - apesar de seu evidente traço autoral - por ser menos hermético do que o realizado pelo prestigiadíssimo mestre austríaco.

Inclusive, vale lembrar que Maria-Victoria Dragus, protagonista do filme em questão, conforme mencionado, também já participou - ainda bem jovem - do já clássico filme "A Fita Branca" de Michael Haneke, reforçando, portanto, a tese de que o cineasta deve mesmo ter sido uma grande referência aqui.


Ainda analisando Mademoiselle Paradis do ponto de vista técnico, merece também destaque o primoroso trabalho de reconstituição de época (direção de arte) e a igualmente bela fotografia.


Esquecendo agora um pouco de questões técnicas, é imprescindível dizer que Mademoiselle Paradis, apesar do incômodo que causa em determinados momentos por sua total ausência de idealização dos personagens (e talvez justamente por isso), trata-se de um autêntico documento acerca da intolerância e crueldade do ser humano em relação a tudo aquilo que julga como "diferente".



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