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BRINCADEIRA AGRIDOCE


por Antônio de Freitas


Meu Novo Brinquedo (James Huth, 2022) é o segundo “remake” de um clássico francês dos anos 70, O Brinquedo (Le Jouet, 1976), que foi dirigido pelo internacionalmente aclamado Francis Veber (A Gaiola das Loucas, 1978). Só de ser uma história saída da cabeça do homem que adaptou a peça A Gaiola das Loucas e a transformou na comédia francesa de maior sucesso de todos os tempos nos dá esperança de ver um filme, ao menos, inspirado. Antes dele houve um "remake" americano dirigido por Richard Donner (1930 - 2021), o diretor de Superman: O Filme (Superman,1976), e estrelado por Richard Pryor (1940-2005), que não chegou a ser um sucesso estrondoso, mas agradou geral aos fãs do humor escrachado de Pryor. Quem já viu esse filme nas sessões da tarde de TV vai poder vê-la sendo feita usando outro tipo de humor, mais elegante, sutil e com pitadas de críticas sociais.


Jamel Debbouze (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001) interpreta Sami Cherif, um imigrante do Oriente Médio que se vira vendendo bugigangas em feiras e está em apuros por não conseguir pagar as contas. A situação está pior ainda por ter uma esposa que está grávida e ameaçada de demissão assim como seus amigos. Mas consegue um emprego em uma loja de produtos sofisticados e, no primeiro dia de trabalho, é pego dormindo por um grupo de executivos que está ali para mostrar a loja para o herdeiro de tudo aquilo, Alexandre Étienne. O menino ordena de forma tirânica que Sami o acompanhe para brincar com ele pelo resto do dia. Pressionado pelos superiores, Sami aceita a tarefa e, depois de apenas uns minutos com Alexandre, percebe que o menino é um tremendo monstrinho mimado desprovido de escrúpulos ou respeito pelos outros.

Depois de ser submetido a situações vexaminosas onde é tratado como verdadeiro brinquedo, Sami decide pular fora. Mas o pai do garoto, o bilionário Philippe Étienne, interpretado pelo sempre magnífico Daniel Auteil (Rainha Margot, 1994), lhe oferece uma gorda quantia para que aceite ser saco de pancadas do moleque. Sami, pensando em seus problemas financeiros, aceita. A partir daí temos uma série de situações engraçadas onde ele é humilhado das mais diversas formas, ao mesmo tempo que aparece um crescente questionamento de Sami quanto ao fato de estar vendendo sua dignidade para agradar a um menino astronomicamente rico e mimado demais.


Ao contrário do filme americano, que apostou pesado em comédia pastelão, este filme vai se transformando de comédia cínica para um drama onde o protagonista descobre o motivo do menino ser assim. Tocado por isso, Sami se empenha em tentar dar um jeito naquela família que, apesar dos bilhões em dinheiro, é muito pobre em amor. Nessa intentona, Sami ainda vai tentar incutir no pai bilionário umas ideias mais humanistas e assim salvar milhares de trabalhadores da demissão.


O que temos aqui é um filme de premissa simples com estrutura clássica e bastante linear. Tem os clássicos 3 atos onde se vê a apresentação, o confronto e a resolução de um problema. O protagonista tem seu arco dramático que sai da perda da dignidade e anulação de si mesmo para condutor de ideias e transformador do universo ao redor. Segue a cartilha da comédia clássica do cinema norte-americano, mas consegue dar o elegante toque francês e chegar a um filme de personalidade forte, com um discurso muito mais enriquecedor do que a versão americana.  Não chega a ser um filme imperdível, mas é uma saborosa e esplendidamente bem feita comédia agridoce que vai agradar a aqueles amantes do gênero que resolverem experimentar produções do “além Hollywood”.





 




DELICIOSO DELIVERY DE CINEMA FRANCÊS EM SÃO PAULO



por Ricardo Corsetti


Na última terça-feira (07/11) ocorreu em São Paulo a abertura oficial da mais recente edição do Festival Varilux de Cinema Francês, no Espaço Itaú Augusta (já clássico reduto dos cinéfilos paulistanos).


Conforme ocorre anualmente, o evento foi marcado pela presença de diversos convidados internacionais, dentre eles, boa parte dos diretores e atores responsáveis pelos filmes exibidos naquele dia.


Quatro longa-metragens foram exibidos simultaneamente ocupando, portanto, 4 salas do referido cinema. Dentre eles, tive o prazer de assistir, em primeira mão, a ótima comédia dramática intitulada Making Of, dirigida pelo experiente cineasta francês Cedric Kahn (Arrependimentos, 2009).


Em seu mais recente trabalho, o diretor/roteirista nos presenteia com a interessante e divertida história sobre um diretor que tenta - enfrentando praticamente todos os contratempos e adversidades possíveis numa típica produção cinematográfica - realizar seu sonhado filme a respeito de um grupo de operários que se rebela contra as péssimas condições de trabalho e baixa remuneração a ponto de tomarem, à força, o comando da fábrica onde trabalham.


No entanto, o idealista diretor enfrentará problemas como um ator (protagonista) "estrela" que o tempo todo tenta tomar o comando, ou seja, mandar mais do que o diretor em seu próprio filme. Além disso, suspensão de verba por parte dos produtores que, a todo custo, tentam mudar o final imaginado pelo autor em favor de um desfecho mais "otimista e comercialmente viável".


Ou seja, sobretudo para quem já passou pelo ato de tentar dirigir um filme, ou no mínimo possui qualquer familiaridade com o assunto, como não se identificar com as agruras vividas por este autêntico "operário da sétima arte?"


Após a exibição de Making Of e também dos demais filmes apresentados em outras salas do Espaço Itaú, foi servido um ótimo coquetel de confraternização a todos os convidados presentes. E, conforme ocorre todo o ano, o conjunto formado pela exibição de ótimos filmes, bem como excelente recepção a todos os presentes, foi mesmo impecável.


Obs: Making Of, bem como outros diversos títulos nesta edição do Festival que este ano, aliás, homenageia a diva suprema do cinema francês e mundial, Brigitte Bardot, até o dia 22 de novembro serão exibidos comercialmente nos melhores cinemas da cidade. Consulte a programação AQUI.



CINEMA COM "C" MAIÚSCULO. AMÉM, SR. SCORSESE



por Ricardo Corsetti


Quem me conhece relativamente bem, sabe que eu sou suspeito para avaliar, com a devida "imparcialidade e isenção", um filme de Martin Scorsese (Taxi Driver, 1976). Ainda assim, garanto ser capaz de avaliar, com a devida justiça, os prós e contras deste filme que, para minha felicidade, possui muito mais pontos positivos do que negativos.

Sinceramente, chego a dizer que, se não fosse pelas 3 horas e meia de duração de Assassinos da Rua das Flores, talvez eu até o situasse entre os melhores trabalhos do diretor, sério mesmo.


Há momentos desnecessários no filme? Provavelmente sim, mas lembremos que aqui estamos falando de um diretor com "D" maiúsculo, capaz de conduzir a narrativa com maestria, visto que a trama flui muito bem, praticamente nunca deixando o espectador cansado e desinteressado por seu desenrolar.


É fato que a qualidade do elenco, com destaque para Robert De Niro (Cabo do Medo, 1991), de volta à velha forma, vivendo o impagável e cinicamente divertido Reverendo Hale, contribui muito para o êxito da história. Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street, 2013), por sua vez, não chega a apresentar um desempenho propriamente brilhante como protagonista, mas dá conta do recado, satisfatoriamente, é claro. Brendan Fraser (A Baleia, 2022), apesar do pequeno papel como um advogado oportunista, rouba a cena durante os poucos minutos em que aparece na tela.



Obs: ver que até mesmo meu adorado "São Scorsese" parece ter aderido à "nolanização" (menção a Christopher Nolan) vigente no cinema contemporâneo, onde parece ter virado regra que nenhuma grande produção hollywoodiana não possa ter menos do que 2 horas e meia de duração, me causa incômodo. No entanto, conforme mencionei, o domínio narrativo (sobretudo no que se refere ao ritmo do filme) característico do diretor ítalo-americano me faz encarar, com tranquilidade, a experiência imersiva de me mergulhar neste épico scorseseano.


Se comparado ao seu trabalho anterior - o belíssimo O Irlandês (2019) -, Assassinos da Lua das Flores, embora possua exatamente a mesma duração (3 horas e meia), se trata de um filme bem mais facilmente, digamos assim, "digerível" que seu antecessor.


Merece ainda total destaque, a temática envolvendo o genocídio disfarçado de "boas intenções", promovido contra os povos indígenas originários na América.


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