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MOMENTO NOSTALGIA, MAS COM MUITA AÇÃO


por Ricardo Corsetti


Em primeiro lugar, é preciso dizer que seria mesmo preciso - sobretudo para aqueles que acompanharam ao longo de já quase três décadas, desde quando foi rodado o primeiro filme da franquia, em 1996 - muita ingenuidade e também "boa vontade" para acreditar que poderíamos ter, a essa altura, um filme melhor do que o realizado por Brian De Palma (Missão Impossível, 1996) ou o tão bom quanto, realizado por John Woo (Missão Impossível 2, 2000).

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Mas isso não significa que Missão Impossível 7 seja, necessariamente, um filme ruim, muito pelo contrário. Apesar de excessivamente longo (típico mal dos blockbusters contemporâneos), o filme escrito e dirigido por Christopher McQuarrie (o já lendário roteirista de Os Suspeitos, 1995) tem lá seus méritos.


A ação quase que ininterrupta - ao longo de 2 horas e 45 minutos de duração - aliada a efeitos especiais tecnicamente muito bem realizados, sem dúvida, são o ponto alto do filme.


Por outro lado, uma trama um tanto confusa e repleta de clichês temáticos e narrativos, tais como, a velha história de se responsabilizar - em algum momento - a velha Rússia por todo o mal existente no universo, se fazendo menção à Guerra Fria (coisa que nem mesmo existe mais, diga-se de passagem) cansa um pouco a nossa inteligência. Em resumo, alguém precisa avisar o Tio Sam, urgentemente, sobre o fato de que a Rússia já não é um país socialista há algum tempo, não é mesmo? (risos)


A qualidade do elenco, engrandecido por um trio de belas e talentosíssimas atrizes: Rebecca Ferguson (Doutor Sono, 2019), Hayley Atwell (A Duquesa, 2008) e Vanessa Kirby (Pieces of a Woman, 2020); além, é claro, do charme maduro de um agora sexagenário Tom Cruise como protagonista (que, embora tenha lá suas limitações como ator, é sempre muito carismático) também ajuda muito no sentido de fazer fluir, com relativa desenvoltura e até senso de humor, a longa duração da trama.

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Quanto à direção de McQuarrie, é competente, mas até pelo fato dele, sinceramente, me parecer muito mais roteirista do que diretor, falta uma certa personalidade ao seu estilo, ou seja, uma verdadeira "assinatura" de diretor.


Além disso, é uma pena que McQuarrie ceda tão facilmente a essa intragável e contraditória mania dos blockbusters contemporâneos, no sentido de serem, estranhamente, tão extensos. Onde estão - no mundo do cinema atual - aqueles saborosos filmes com 1 hora e meia/ 1 hora e 40 minutos de duração (como era o caso do primeiro e melhor Missão Impossível de 1996, aliás)? Por que hoje em dia tudo tem que ter, pelo menos, 2 horas e meia de duração? Costumo chamar a esse fenômeno contemporâneo de "nolanização" (menção a Christopher Nolan - A Origem, 2010) do cinema. Mas não vou me estender na elaboração dessa tese.

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Além do mais, Missão Impossível 7 já foi imediatamente pensado para ter uma sequência, já em fase de produção. Ah, a transformação de absolutamente tudo em "franquias" é outro mal do cinema contemporâneo.


Enfim, devaneios à parte, volto a frisar que Missão Impossível 7, não é um filme ruim. Possui os méritos acima destacados, tais como a extrema perícia na execução de cenas de ação de tirar o fôlego, etc. Só precisaria, digamos assim, aparar algumas sequências, dar uma enxugada em sua duração excessiva, por exemplo, para assim render, sem dúvida, um filme ainda muito melhor.




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JANELA INDISCRETA PORTENHA


por Antônio de Freitas


Meu Vizinho Adolf, dirigido pelo estreante Leon Prudovsky, começa com uma rápida cena de apresentação da família Polsky em Berlim no ano de 1934. Nota-se que são judeus e a esposa tem o hábito de esmigalhar cascas de ovos para adubar um pé de raras rosas de cor tão escura que parecem negras. A ação é interrompida para tirarem uma foto de família que acaba saindo um tanto desastrada. Com um corte abrupto a ação é transportada para uma pequena cidade não identificada da América do Sul, quando um jornaleiro vende jornais com a notícia do grande terremoto do Chile de 1960.

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Do centro da cidadezinha, a ação vai para a zona rural onde nos é apresentado David Hayman (O Menino do Pijama Listrado, 2008) na pele do Sr. Polsky, cuidando da mesma forma de uma roseira exatamente como na cena inicial. É um solitário e mal humorado senhor que não fica muito feliz quando interrompem sua rotina diária. E é isso que acontece quando a advogada Frau Kaltenbrunner - interpretada por pela ótima Olivia Silhavy (A Dama Dourada, 2015) - se apresenta como representante de um homem de Buenos Aires que está interessado em comprar a casa ao lado. Ela avisa que o número de telefone está ilegível na placa e pergunta se ele sabe informar sobre o proprietário.


O mais que azedo Sr. Polsky se livra da mulher para se dedicar aos seus afazeres. Alguns dias depois, vê um caminhão de mudança chegando com móveis um tanto sofisticados para a região humilde onde mora, sendo colocados na casa. Trabalhadores aumentam os muros e irritam Polsky, que começa a observar seu vizinho misterioso. Este mal sai de casa e passa as tardes brincando com um pastor alemão visivelmente treinado. A situação se complica quando o cão passa por um buraco da cerca e faz suas necessidades no jardim alheio. Polsky enfurecido toca a campainha da casa ao lado, encontra o Sr. Herzog vivido pelo icônico ator Udo Kier (Bacurau, 2019) e reclama de forma azeda para receber uma resposta mais azeda ainda. O fato leva a uma típica briga de vizinhos que, inclusive, tem a ver com à posição errada da cerca onde está a amada roseira.


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Implicado com o alemão ranzinza, o igualmente razinza Sr. Polsky começa a desconfiar do vizinho quando vê uma notícia da captura do criminoso nazista Adolf Eichmann (1906 - 1962) em Buenos Aires. A paranoia se instala e ele se dedica a provar que seu vizinho é nada mais nada menos do que Adolf Hitler em pessoa.

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Ideia que é reforçada através da observação de vários detalhes do vizinho que se casam com os do infame ditador sanguinário. O que vem depois é um jogo de gato e rato que lembra muito o clássico Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 1954) que, após uma série de sequências bem desenvolvidas, forma uma escada que leva a um desfecho repleto de reviravoltas consecutivas.


Aqui temos um filme simples e bem realizado com a presença de ótimos atores. Mas o diretor, que também é um dos roteiristas, peca por não apresentar direito a família de Polsky e, assim, criar uma maior empatia com os sentimentos de um homem que perdeu todos seus entes queridos no Holocausto. O mesmo para a apresentação do local onde tudo se passa e o momento retratado. Falta uma exposição da atmosfera de desconfiança quanto aos rumos tomados pelos oficiais nazistas após o fim da Segunda Guerra Mundial e a dúvida sobre o cadáver de Hitler que, segundo os soldados soviéticos, foi encontrado totalmente queimado e irreconhecível. Talvez as informações colocadas no filme sejam um tanto discretas demais para um espectador comum que não vai poder apreciar melhor essa eficiente comédia agridoce.



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BATALHA DE UMA MULHER SÓ


por Antônio de Freitas


Já faz mais de duas décadas que diretores das mais variadas nacionalidades estão avançando sobre os gêneros que sempre foram dominados pelos filmes americanos. A Sindicalista (Jean-Paul Salomé, 2022) é uma dessas incursões e entra em um campo que não é muito explorado fora do dito cinema “hollywoodiano”. Trata-se do que poderia ser chamado de “thriller corporativo”, ostentando a insígnia de “baseado em uma história real”.

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A história de uma pessoa que luta sozinha contra uma grande empresa é um subgênero bem característico do cinema americano, que já nos ofereceu excelentes filmes. E perseguindo este nível, o diretor e coautor do roteiro conta com tintas realistas a história da representante sindical Maureen Kearney, interpretada pela sempre excelente Isabelle Rupert (A Sra. Harris vai a Paris, 2022).


Mauren é encontrada amarrada, amordaçada e vítima de um bizarro estupro por uma empregada. Seu caso torna-se um escândalo na mídia, o filme dá um salto de meses para o passado e acompanhamos sua trajetória para descobrir como ela chegou ao ponto de sofrer um ataque deste porte. Sabemos que é a representante dos empregados da imensa empresa Areva, que lida com a energia nuclear da França cuja presidente e aliada dela é substituída por um homem histérico e machista que, no primeiro encontro, demonstra não ir com a cara da nossa protagonista, que anda fuçando em atividades um tanto obscuras da imensa corporação.

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Na primeira parte vemos uma mulher lutando contra o machismo e a ganância que envolve não apenas os ocupantes de altos postos da empresa, mas políticos e homens muito poderosos que estão metidos em uma transação que pode prejudicar - e muito - os empregados que ela defende. Na sua trajetória vai encontrar aliados e inimigos entre homens e mulheres que, às vezes, vão apoiar o discurso machista dos antagonistas. As surpresas e reviravoltas são muitas no labirinto corporativo em que ela se mete e a história é contada de forma não linear até chegar ao ponto onde ela é encontrada na situação do início do filme.


Na segunda parte, o antagonismo vai além da empresa e dos executivos. Diante da revelação do passado de Mauren e seu comportamento, a sociedade e a mídia vão duvidar de seu relato e passar a questionar sua sanidade e ética. E assim é a reação de quem está assistindo, pois o diretor habilmente nos conduz a um estado de dúvida e uma hesitação ao escolher uma posição para julgá-la. Mauren vai ter que lutar contra o mundo que a cerca e a desconfiança do espectador.


A trama é muito bem conduzida com Isabelle Hupert que, apesar de estar com quase 70 anos e muito “botoxada”, interpreta a mulher durona com muita garra sempre acompanhada por ótimos coadjuvantes, que dão seus shows de interpretação naturalista em cenas com diálogos econômicos e tiradas inteligentes. Este estilo realista é uma marca do cinema francês e, fiel a ele, o diretor acaba deixando a obra um pouco morna e, por ser um thriller, precisando de umas pitadas dos exageros estilísticos do cinema americano. Talvez um ritmo mais nervoso, cores mais sombrias e até uma trilha sonora mais evocativa. Estes artifícios poderiam ajudar na guerra pelo público, porque são as armas usadas pelo inimigo.


Mas isso não tira o brilho desta autêntica obra francesa, com pitadas de crítica política e ataques diretos à hipocrisia da sociedade, que ainda rejeita mulheres que demonstram força e vontade para lutar contra os interesses escusos que regem nosso mundo e, muito pior, um mundo onde o poder ainda está concentrado nas mãos dos homens. A dupla Jean-Paul & Isabelle Hupert já nos entregou o delicioso A Dona do Barato (Jean-Paulo Salomé, 2020), provando que o cinema francês de gênero está em ótima forma. E este filme não foge à regra.


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Também escreve esquetes de humor para internet (algumas no programa que também produziu chamado Dedo Indicador) e contos ainda não publicados. Atualmente está filmando dois curtas de sua autoria.  

 

Formado pela FACHA/RJ em Jornalismo e Publicidade & Propaganda. Fez aulas particulares com Jorge Duran (roteirista de Pixote e Lucio Flávio - Passageiro da Agonia). Fez a Oficina de Roteiro da Rio Filme e inúmeros cursos de roteiro com profissionais da área.

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