
LINDA EMBALAGEM, CONTEÚDO RAZOÁVEL
por Ricardo Corsetti
O Cinema do diretor brasileiro Gregório Graziosi (Obra, 2014) parece ser mesmo marcado por muita pretensão e pouco resultado. Pois, assim como já ocorria num de seus trabalhos anteriores - citado no início deste parágrafo -, o que vemos em seu mais recente filme, Tinnitus, é exatamente isso: estética perfeita, com muito bom gosto - diga-se de passagem -, mas conteúdo fraquíssimo e ausência de clareza ou mesmo coerência narrativa.

A bela e competente dupla de jovens protagonistas: a atriz luso-brasileira Joana de Verona (Praça Paris, 2018) e a franco-brasileira Alli Willow (Bacurau, 2019), sem dúvida, são o ponto alto do filme.
Merecem destaque também, a ótima fotografia e direção de arte, não por acaso recentemente premiadas na última edição do Festival de Gramado.
No mais, como diria um antigo professor meu, o que se vê em Tinnitus é muita perfumaria e pouco conteúdo em termos de trama e, sobretudo, desenvolvimento de roteiro.
Personagens secundários que entram em cena com a mesma facilidade com que desaparecem ao longo da história, sem maiores explicações, caracterizam o filme.

Por vezes, quase um trabalho de videoarte (aliás, caso assumisse tal proposta, poderia funcionar muito melhor), Tinnitus tem ainda, como um de seus pontos altos, o bom trabalho de edição de áudio, bem como a competente trilha sonora, fundamentais inclusive para justificar e ressaltar o tema aqui abordado: perda gradual da audição por parte da protagonista.
Mas, ainda assim, as qualidades técnicas do filme - bem como a competência de seu elenco, com destaque até para a pequena participação de Antônio Pitanga (A Grande Cidade, 1964) - são pouco para justificar ou mesmo permitir o êxito comercial a Tinnitus. Uma pena mesmo.

DESBRAVANDO HOLLYWOOD
por Ricardo Corsetti
É fato que pouquíssimos são os exemplos de diretores estrangeiros que, ao tentarem fazer a transição em relação ao seu idioma e país natal para o cinema mainstream norte-americano, são bem-sucedidos no sentido de não perderem sua personalidade.

Felizmente, o argentino Damian Szifron, sim, o autor do já clássico Relatos Selvagens (2014) parece ser mesmo uma exceção à regra. Pois sua estreia em Hollywood com o ótimo Sede Assassina, embora seja um filme de gênero (comercial), trata-se de um filme com muito estilo e, portanto, com "assinatura" de diretor.
Planos belíssimos, direção segura, ritmo ágil e também uma perfeita junção entre a belíssima fotografia e a direção de arte caracterizam este competente suspense/policial.
A crítica social inteligente e bem-humorada - característica de praticamente toda a filmografia do diretor/roteirista - está presente nas entrelinhas da trama, dentro do que é possível para os padrões de um filme comercial norte-americano, é claro.

Curiosamente, inclusive, a paleta de cores básica que caracteriza a linda fotografia do filme, bem como a direção de arte, é inteiramente calcada em vermelho, azul e branco, ou seja: as cores da bandeira norte-americana. Mas isso nunca ocorre com a intenção de louvor aos EUA, muito pelo contrário. Há claramente a irônica intenção de se passar a seguinte mensagem: fiquem atentos, pois a tão alardeada "doce terra da liberdade", na prática, não é assim tão tolerante em relação aqueles que não se adequam às suas regras.

É ainda interessante notar que todo o trabalho de atuação e construção de personagem realizado por Ben Mendelsohn (Reino Animal, 2010) na concepção do investigador de polícia que ele interpreta é claramente inspirada no estilo de Russel Crowe em Uma Mente Brilhante (2001), até mesmo o gestual de seu personagem. Mas é também importante frisar que isso não compromete em nada a ótima atuação de Mendelsohn.
A única ressalva a se fazer em relação a Sede Assassina é que talvez, em alguns momentos, falte um desenvolvimento um pouco melhor acerca de determinados personagens e situações. Mas, em termos gerais, trata-se mesmo de uma ótima estreia para um diretor "gringo" em Hollywood, que merece ser vista.
Atualizado: 23 de jun. de 2023

QUANDO UMA SIMPÁTICA IMAGEM, DIZ MESMO MAIS DO QUE MIL PALAVRAS
por Ricardo Corsetti
Dirigido e corroteirizado pelo consagrado realizador polonês Jerzy Skolimowski (11 Minutos, 2015), EO nos apresenta a história de um simpático burrinho, após fugir do circo onde trabalha e encarar os desafios cotidianos de conviver e lidar com o pior ser vivo que habita o planeta Terra, ou seja, o ser humano.

Sabemos que filmes protagonizados por animais, sobretudo quando realizados em Hollywood, tendem a idealizar e antropomorfizá-los (dar características humanas) em excesso. Felizmente, este não é o caso da simpática produção polonesa, recentemente indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, aliás.
EO consegue entreter, sem nunca cair na armadilha de dar doses de fofura excessiva a seu protagonista equino, gerando portanto, empatia em relação ao burrinho, mas sem subestimar a inteligência ou senso de realidade por parte do espectador.
Por meio de um estilo narrativo quase documental, EO cumpre bem sua tarefa de nos apresentar todo o egoísmo, oportunismo e, por vezes, pura maldade mesmo do bicho homem.

O mundo como ele de fato é, visto e apresentado a nós pelo ponto de vista do simpático burrinho, me fez lembrar um pouco o estilo do ultraclássico filme tcheco Um Dia, Um Gato (Vojtech Jasny, 1964), embora aqui haja uma secura e objetividade muito maior no estilo narrativo.
Ah, Polônia, berço eterno de grandes gênios da sétima arte do porte de um Roman Polanski (O Bebê de Rosemary, 1968) e Andrezj Wajda (Cinzas e Diamantes, 1951), por exemplo, tu não cansas mesmo de nos brindar com gente talentosa e muito criativa. Que ótimo isso!









































