Atualizado: 23 de jun. de 2023

BOA PIADA, MAS QUE DURA O TEMPO DE UMA TRAGADA
por Ricardo Corsetti
Os jovens diretores e roteiristas estreantes André Sigwalt e Augusto Soares tem, sobretudo, o mérito de terem bancado - com recursos próprios - um longa-metragem, diga-se de passagem, num país onde, nos dias de hoje, nem mesmo bilionários, herdeiros de banco, etc; ousam produzir um filme de forma totalmente independente.

Muito melhor em termos de atitude do que de resultado propriamente dito, O Mestre da Fumaça diverte com sua inusitada proposta: combinar o clássico Kung Fu chinês, com, digamos assim, muitos quilos de uma certa "erva natural".
O problema é que, conforme já era de se esperar, a eficiência da "piada" dura o tempo de uma boa tragada e, no decorrer da trama, acaba se perdendo e cansando um pouco. Sem dúvida, a ideia funcionaria muito melhor num curta-metragem, por exemplo.
Ainda assim, o simples fato de vermos um típico "filme de gênero" no estilo ação/artes marciais, sendo realizado num país que, há muito tempo, parece ter desaprendido a fazer filmes de gênero propriamente dito, já é digno de nota.

No entanto, a coreografia das cenas de luta nem sempre convence e apresenta algumas claras limitações que comprometem a verossimilhança. Porém, conforme foi mencionado pela própria dupla de diretores/roteiristas durante coletiva de imprensa pós sessão de cabine, houve pouquíssimo tempo para preparar os atores (quase todos não familiarizados com o universo das artes marciais, aliás) devido às claras limitações orçamentárias típicas de uma produção independente. Descontinho para eles neste sentido, portanto.

O ponto alto de O Mestre da Fumaça, sem dúvida, é a presença do ótimo Tony Lee (Made in China, 2014) vivendo tanto o próprio mestre da fumaça do título, como também a matriarca de um clã mafioso que só fala chinês, quase irreconhecível, graças à ótima qualidade de sua atuação.
Livremente inspirado no ultra-clássico primeiro filme estrelado pelo astro chinês Jackie Chan, Big and Little Wong Tin Bar (1962), O Mestre da Fumaça diverte com boa eficiência, apesar de suas limitações técnicas e em termos de desenvolvimento de roteiro. Mas vale uma conferida.
Atualizado: 23 de jun. de 2023

DELICIOSO SABOR DE SESSÃO DA TARDE
por Ricardo Corsetti
Desde meados dos anos 80, provavelmente nenhum outro gênero - ou subgênero - foi tão popular no cinema norte-americano como à comédia romântica.

Nesse sentido, o recente Amores Verdadeiros - inspirado em sucesso literário homônimo - parece tentar resgatar a tradição, mas adaptando, é claro, algumas características da clássica comédia romântica aos tempos atuais.
Se, por um lado, o filme de Andy Fickman (Brincando Com Fogo, 2019) respeita algumas regras básicas do subgênero como mocinha virtuosa, melhor amigo por ela secretamente apaixonado, coincidências quase inverossímeis, etc; por outro lado, se adapta à necessidade de subverter algumas convenções, como por exemplo, no momento em que a protagonista, após as dúvidas e reviravoltas típicas da trama, opta por ficar com o sujeito que não é, digamos assim, propriamente o sonho de consumo de toda típica garota norte-americana de classe média.

O elenco carismático, embora não necessariamente "estelar", colabora bastante no desenvolvimento da trama que, aí sim mantendo ao pé da letra, o padrão quase sempre inverossímil do subgênero, é cheia de fatos e coincidências somente possíveis num universo ficcional e, cá entre nós, com muita tolerância às "licenças poéticas".

Às vezes tenho a sensação de que, como diriam alguns amigos meus, os típicos white people problems (problemas típicos de gente branca e bem nascida), apresentados no filme são, pra não perder a piada, os problemas que eu gostaria de ter, aqui no mundo real.
Um gostoso sabor de Sessão da Tarde, levemente repaginada, sem dúvida, é o que se encontrará em Amores Verdadeiros. E isso é ótimo porque, aliás, de pesada, imprevisível e quase sempre insatisfatória, já nos basta a vida real, não é mesmo?
Atualizado: 23 de jun. de 2023

UMA TENTATIVA DE FILME DE HORROR E O NASCIMENTO DE UMA NOVA MUSA
por Ricardo Corsetti Uma coisa é inegável: desde que estrelou a reencarnação da franquia Pânico - em Pânico 5 (2021) e Pânico 6 (2023) -, a jovem atriz mexicana Melissa Barrera é fortíssima candidata ao título de nova musa do terror - contemporâneo. Ou, quem sabe até, ela possa herdar o título/apelido que já foi associado a Jamie Lee Curtis (Halloween, 1978), entre o final dos anos 70 e início dos 80 -, se tornando a nova "scream queen" (rainha do grito) do horror moderno.

Até porque, é fato que ela é simplesmente a alma, em todos os sentidos, do recente filme O Nascimento do Mal, do qual assina, aliás, a produção executiva, além de protagonizá-lo. No mais, o longa padece da absoluta falta de criatividade ou originalidade, optando por sustos fáceis (que na maioria das vezes, não funcionam da forma esperada) e por uma trilha sonora equivocada, que tenta super dimensionar determinadas cenas, forçando uma dramaticidade que tais cenas, na verdade, nem de longe possuem. Felizmente, porém, para compensar suas deficiências em termos de roteiro e originalidade, O Nascimento do Mal possui Melissa Barrera que, literalmente, deu o sangue (também no sentido metafórico) para o que filme ainda funcione razoavelmente, entregando uma atuação realmente competente e envolvente.

Em termos de referências cinematográficas, O Nascimento do Mal se inicia parecendo uma espécie de misto entre O Chamado (Gore Verbinski, 2002) e Atividade Paranormal (Oren Peli, 2007), para mais adiante se tornar uma espécie de O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968) pouco inspirado. Em resumo, boas referências o filme até possui, o problema é não saber aproveitá-las ou desenvolvê-las da forma adequada. Em ternos técnicos, a direção é apenas ok e os efeitos especiais, satisfatoriamente realizados. Mas o que realmente fica em nossa memória após ver o filme é mesmo a ótima atuação e total entrega à personagem, apresentada pela nova diva Melissa Barrera. É isso.









































