
ARTUR E LEO NO PAÍS DAS CARONAS MARAVILHOSAS
por Antônio de Freitas
Além de Nós começa com uma série de belas imagens que localizam a história em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul. Ali vivem os dois protagonistas. Artur, o boa vida sedutor da região, é apresentado pulando por uma janela para fugir do pai de uma conquista sua e Leo voltando derrotado para sua casa após ser demitido da fazenda onde trabalhava como peão. Em pouco tempo sabemos que Leo é sobrinho de Artur e filho de Leopoldino que abriga os dois em sua casa e condena Artur por ser um péssimo exemplo de vida para seu filho. O velho recebe a notícia da demissão do filho de forma dura e, quando pressiona para tomar uma atitude, uma briga se instala entre os dois com o filho saindo de casa para logo depois voltar ao ser avisado da morte do pai de ataque cardíaco.

Artur volta de suas aventuras para dar apoio ao sobrinho Leo, que descobre uma carta do pai onde ele revela um sonho não realizado. Decidido a fazer a vontade do pai, Leo quer ir para o Rio de Janeiro e Artur resolve ajudá-lo. Nesse momento começa de verdade o filme que se estabelece como um Road Movie (filme de estrada). Um estilo cinematográfico que sempre dá à “Jornada do Herói” maior importância do que o motivo pelo qual o personagem vai em frente. É nela que o personagem se transforma, cresce e cumpre seu arco dramático.
O problema aqui é que Leo e Artur são muito mal delineados. Seus estados de espírito - assim como o relacionamento entre eles - não são ilustrados ao ponto de conseguirmos ter uma empatia pelo motivo da viagem assim como o desenvolvimento da relação entre tio e sobrinho. Só se nota que Artur é um homem inconsequente que causa problemas ao sobrinho que está focado em realizar o sonho do pai. E, seguindo a estrutura de Road Movie eles vão em frente encontrando personagens que influenciam sua jornada como Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll, 1865) onde a menina aprende novos conceitos à medida que conhece diferentes personagens que vão aparecendo pelo caminho. Só que nesse filme os personagens da estrada, são apresentados e caracterizados sem ter nenhuma função a não ser dar caronas para lá de providenciais para resolver problemas e ajudar os dois em sua odisseia. Não passam de arranjos de roteiro para que a história vá para frente.

Há um personagem X que, no início, aparece na televisão falando de ecologia, um assunto que se encaixa com o fato da fazenda onde Leo trabalhava ter sido comprada para plantarem eucaliptos. Logo depois, no início da viagem, Leo se defronta com uma imensa floresta de Eucaliptos que parece ameaçar a paisagem dos Pampas. Uma belíssima, pesada e magnificamente fotografada cena simbólica que fica na nossa memória. E isso é reforçado quando, no meio da viagem, esse personagem X volta a aparecer na praia discutindo sobre mortandade de peixes devido a poluição. A sensação é que o assunto meio ambiente vai fazer parte do filme. Mas não faz, pois esse X vai aparecer de novo de forma completamente absurda, pois dá um salto de espaço que não faz sentido, só para dar mais uma carona maravilhosa e salvar o dia. Sua profissão e discurso não fazem a mínima diferença para a história.

Além de Nós oferece altos valores de produção que saltam aos olhos desde as primeiras imagens. A direção de fotografia faz um trabalho belíssimo mostrando cenas de cores densas que variam das frias e soturnas para as cores quentes. A sonoplastia cria camadas e mais camadas de sons que estabelecem uma profundidade que nos faz sentir todo o universo retratado. Bons atores que são bem caracterizados com um figurino pra lá de eficiente assim como a direção de arte que ilustra muito bem os ambientes das diversas culturas regionais. E, por fim, um diretor esteta que, junto com o diretor de fotografia, nos entrega cenas que lembram pinturas de Caspar David Friederich (1774 - 1840), pintor que é um dos mais evocados nos grandes filmes do hemisfério norte.
O problema está no roteiro que tropeça justamente nos itens básicos para contar uma boa história. Ficaram preocupados em mostrar exteriores com belas paisagens e esqueceram do interior dos personagens. Isso não chega a derrubar o filme, mas aqui se perdeu a chance de fazer uma bela obra.

MAIS DO MESMO, MAS COM EFICIÊNCIA
por Ricardo Corsetti
Assim como já havia ocorrido com outros astros hollywoodianos "maduros", tais como: Russell Crowe (Fúria Incontrolável, 2020) e, sobretudo, o grande Liam Neeson (Assassino Sem Rastro, 2021), o eterno personagem do épico "300" (Zack Snyder, 2006), Gerard Butler parece estar prestes a engrossar o filão de veteranos que aderiram à onda de estrelar os novos (e genéricos) "suspenses de ação", conforme demonstra seu mais recente trabalho Caça Implacável.

O novo filme estrelado por Butler, embora siga à risca a fórmula característica do subgênero, seja graças ao carisma do astro escocês, seja graças ao talento narrativo do diretor Brian Goodman (Borboleta Negra, 2017), não decepciona.
Caça Implacável, aliás, se assemelha muito aos clássicos telefilmes dos anos 90, aos quais - aqui no Brasil - víamos na TV aberta, nas sessões Super Cine das nossas noites no sofá de casa. Não por acaso, a origem do citado diretor é justamente a TV norte-americana, o que explica sua evidente familiaridade com o formato.

Ritmo certeiro e clima de tensão permanente caracterizam o longa, que peca apenas no momento em que recorre a uma vexatória cena de explosão (incêndio) em CGI (computação gráfica), capaz de provocar riso nos demais presentes à sessão. Mas, graças aos demais méritos e acertos citados, a risível cena não chega a comprometer o resultado geral.
E apesar do desfecho mais do que previsível, Caça Implacável nos brinda com entretenimento ágil, certeiro e despretensioso. Vale, portanto, uma boa conferida!

QUANDO HISTÓRIA E FICÇÃO CAMINHAM JUNTAS
por Ricardo Corsetti
Terceiro filme da saga do simpático arqueólogo Tadeo, iniciada em 2013, As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda combina fatos históricos com muita ficção, mas o faz com competência e boa dose de diversão.

É fato que Hollywood sempre diluiu elementos históricos em filmes comerciais dedicados ao grande público, muitas vezes chegando a criar um verdadeiro pastiche da realidade histórica.
Como aqui falamos de um filme de animação, dedicado sobretudo ao público infanto-juvenil, é até compreensível a tendência à não fidelidade absoluta aos fatos históricos, mas, visto que o jovem diretor/roteirista espanhol Enrique Gato (As Aventuras de Tadeo, 2013) conduz sua trama com muita competência e sem exagerar na diluição da história real aos quais cita ao longo do filme, o resultado até que é bem positivo.
O inegável carisma da dupla formada pelo protagonista Tadeo e seu fiel parceiro, a divertida Múmia fanática por tecnologia e redes sociais, também colabora muito para o êxito do filme.

Destaque ainda para a arrogante e involuntariamente divertida faraó Ra-Amon-Ha (ou simplesmente, Ramona) que logo descobrirá o imprescindível valor da amizade ao conviver com o ingênuo Tadeo e a atrapalhada Múmia.
Com produção caprichada e ritmo ágil, As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda tem tudo para divertir e a agradar a garotada nesta primavera à brasileira que agora se inicia.









































