DELICIOSA NOSTALGIA
por Ricardo Corsetti
1986 - Ah, eu era jovem... Rever esta jóia absoluta dos anos 80 e, pela primeira vez, na tela do cinema (sim, o filme está sendo relançado nos cinemas brasileiros, por iniciativa da A2 Filmes) é mesmo um prazer inenarrável para mim. Sobretudo num momento em que o sexo (consensual e simulado, vale frisar) parece ter virado pecado no cinema mundial contemporâneo.
9 e Meia Semanas é um típico thriller erótico, subgênero bastante popular nos anos 80 e 90; mas não pense você que o filme não possui outros méritos além do apelo sexual, pois a já lendária cena do striptease da personagem vivida por Kim Basinger (Desejos, 1992) realmente comprova que Adrian Lyne (Flashdance, 1984) é mesmo um ótimo diretor, um autêntico esteta na arte da composição de cena, tanto em termos de fotografia (com referências ao cinema noir), quanto de cenografia e decupagem.
A trilha sonora de 9 e Meia Semanas de Amor é também um autêntico show à parte, sendo capitaneada pela sensualíssima e suingada You Can Leave Your Hat On, de Joe Cocker e também pela ultra romântica canção Slave To Love, de Bryan Ferry.
Ver o então jovem Mickey Rourke (O Ano do Dragão, 1985), ainda em momento galã, é também muito interessante, sobretudo quando lembramos que - poucos anos depois - ele entraria num longo período de decadência e ostracismo artístico, após quase abandonar a carreira de ator pelo boxe profissional (que deixaria seu anterior belo rosto, praticamente deformado).
Em suma, 9 e Meia Semanas de Amor, tem puro sabor de memória afetiva, para aqueles que possuem, no mínimo, mais de 40 anos. E, claro, merece uma boa conferida (e de preferência no cinema) por parte da jovem audiência interessada em conhecer um mundo que, praticamente, já não existe mais.
SUSPENSE POLICIAL GENÉRICO, MAS SALVO PELAS ÓTIMAS ATRIZES
por Ricardo Corsetti
O cinema norte-americano mainstream (comercial) dos anos 90 foi marcado por excelentes suspenses policiais, tais como: O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991) e Seven - Os Sete Pecados Capitais (David Fincher, 1995), só pra citar alguns dos melhores exemplos deste subgênero que, infelizmente, parece não ter necessariamente uma continuidade ao longo dos anos 2000 (nem mesmo em sua primeira década).
Nesse sentido, Por Trás da Verdade, de alguma forma parece tentar recriar essa atmosfera tão característica dos filmes realizados na época mencionada, mas patina em meio a uma trama bastante previsível e também numa certa pressa para resolver o "mistério" que se propõe a desenvolver.
A direção é ok, embora remeta bastante à línguagem e estética característica dos telefilmes (outra clara referência aos anos 90), o que também contribui para uma relativa ausência de profundidade.
Sem a menor dúvida, o que realmente se destaca em Por Trás da Verdade, é o inegável talento da já veterana protagonista Hilary Swank (Meninos Não Choram, 1999) e também da jovem Olivia Cooke (O Som do Silêncio, 2021).
Ver o embate inicial que acaba se tornando identificação e reciprocidade entre elas, realmente vale o filme que, embora pouco inspirado e nada inovador em outros aspectos, ao menos nos proporciona este competente "duelo" e posterior união de duas almas atormentadas em busca da verdade por trás das aparências.
PASSANDO UM TANTO LONGE DO ALVO
por Ricardo Corsetti
Embora seja fato que o Brasil (ou mais especificamente, o cinema brasileiro) sempre teve vocação para o humor, no entanto, ao contrário do que ocorria no tempo das lendárias Chanchadas da década de 50, ou até mesmo em sua "reencarnação" na década de 70, como Pornochanchada; esse humor tipicamente brasileiro acabou perdendo sua eficiência e sobretudo, sua espontaneidade, graças ao padrão, ou melhor, à linguagem televisiva que se estabeleceu como formato padrão no gênero comédia a partir do início dos anos 2000, durante a chamada "retomada" da produção cinematográfica brasileira.
Nesse sentido, De Repente, Miss, infelizmente, não vai muito além de romper com o já desgastado formato de esquete de programa humorístico televisivo presente em 99% das comédias brasileiras realizadas nos últimos 20 anos, pelo menos. E, talvez sejam justamente as amarras impostas por esse formato pseudo-televisivo, que me fizeram achar tão primária a decupagem (escolha de planos e ângulos de filmagem) utilizada pelo estranhamente experiente diretor Hsu Chien (Desapega, 2022).
Só mesmo o carisma de Fabiana Karla (Lucicreide Vai Pro Céu, 2021) consegue, em alguns momentos do filme, torná-lo minimamente agradável e divertido de se ver. Danielle Winitz (Os Farofeiros, 2018), por sua vez, como é usual, parece interpretar a si mesma, ao viver a até que divertida "vilã" da trama.
Pouco inspirado e pouco criativo, De Repente, Miss, em resumo, rende alguns poucos momentos de riso e empatia em relação a sua protagonista. No mais, infelizmente, ficou mesmo apenas na intenção de nos fazer rir.