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HIV É UM ASSUNTO DE TODOS

por Vicente Vianna


O primeiro filme hollywoodiano a tratar sobre HIV - assunto de Os Primeiros Soldados - foi Philladelfia (Jonathan Demm, 1993), com Tom Hanks (Náufrago, 2000) - vencedor do Oscar de Melhor Ator - e Denzel Whashington (Os Pequenos Vestígios, 2021). O filme foi lançado só em 1993, 13 anos depois da doença ganhar notoriedade no mundo, para vermos o quanto foi negligenciada e quantos “soldados" (dentre eles Cazuza, Fred Mercury e Renato Russo) morreram até chegar ao “coquetel” salvador de hoje em dia.

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Dirigido por Rodrigo de Oliveira (Teobaldo Morto, Romeu Exilado, 2014), Os Primeiros Soldados é um filme que fala do início do vírus. Se passa em Vitória (ES) na virada de 1983-1984. Os esforços do trio de amigos, liderados pelo jovem biólogo Suzano (Johnny Massaro), Rose (Renata Carvalho) e Humberto (Vitor Camilo) em busca da cura, servindo até de "cobaia" para novos medicamentos.


Quarto longa-metragem do diretor, o filme foca no drama do capixaba Suzano que se vê infectado de uma doença nova (bem reflexivo e comparativo para esse momento de pandemia que passamos) e como um soldado num campo de batalha, luta para sobreviver e lidar com suas angustias e seus questionamentos sobre a vida. Tudo na busca da cura da doença e na luta contra os preconceitos. A direção e as atuações são sensíveis, com destaque para Renata Carvalho numa cena de um monólogo bem descontraído e pertinente.


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O grande vilão fica dividido entre o vírus HIV, que age silenciosamente, e o preconceito da sociedade, que logo apelida essa doença como “Câncer-Gay”, e fomenta ainda mais a discriminação com o público GLBTQIA+, que, como diz no filme e sabemos, existe desde que o mundo é mundo. Porém o diretor, que faz uma alusão a Guerra igualando a baixa de soldados que ela gera, não foca nessa batalha, apesar de ter uma cena no ônibus que não vemos a agressão à travesti, mas sim a sua indignação e o acolhimento por parte da irmã do protagonista. O foco está na determinação dos personagens em busca da solução.

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O universo do longa é gay, não há personagens heterossexuais e é dedicado para todos os GLBTQIA+ que morreram de AIDS. Rodrigo se esquece dos muitos que se contaminaram e morreram sem serem homossexuais, talvez para não tirar o foco dos que mais sofreram e sofrem discriminação pela orientação sexual.


A preocupação com a reconstituição de uma época está impecável, notamos até nos detalhes das placas dos carros. E o trocadilho feito com a música Guerreiro Menino (Gonzaguinha, 1945 - 1991) sintetizou a mensagem do filme: “É dar para ser feliz!” Dar amor, dar abraço, dar beijo, dar atenção, dar respeito, dar carinho com o próximo. Viva a diferença!



Atualizado: 29 de dez. de 2021


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A FESTA NATALINA, A CRIANÇA E A MORTE.


por Vicente Vianna


Primeiro longa-metragem da diretora Camille Griffin, que também escreveu o roteiro e conta com o seu filho, o ator Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit, 2019) em um papel chave na trama. Ou seja,não tem desculpa se A Última Noite não ficou do jeito que ela queria.

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Depois de fazer vários curtas, a diretora francesa - casada com o diretor de fotografia inglês Ben Davis (Eternos/Marvel–2021) - opta pelo suspense com um toque de humor ácido (típico da comédia inglesa) em um tema tabu que não cabe ser mencionado aqui.


Também se cercou de bom atores, como Keira Knightley (Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra, 2003), Mathew Goode (Match Point – Ponto Final, 2005) e o resto do elenco não compromete, inclusive os atores mirins - 4 crianças - estão muito bem.


A história conta a reunião de amigos e familiares para passar a ceia de Natal na mansão do casal protagonista: Nell (Keira Knightley) e Simon (Mathew Goode) com 3 filhos, sendo dois gêmeos de aproximadamente 8 anos - que são um alívio cômico -, as birras com a prima, os ciúmes com os pais, o falar palavrão e o irmão mais velho - de aproximadamente 9 anos -, questionador e rebelde.


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Começa com as pessoas se arrumando para comemorar o Natal. As que vão sair pegam o carro e logo notamos que estamos no interior da Inglaterra, pelo volante do lado direito e a linda paisagem. Como em Festa de Família - filme sueco/dinamarquês de 1998 de Thomas Vinterberg (Druk – Mais uma rodada, 2020) as “tretas” dos amigos e parentes vão nos sendo apresentadas no caminho e na chegada para a festa. Nos 15 primeiros minutos de filme ouvimos muitas músicas alegres e de festividade natalina, como a clássica Feliz Navidad (José Feliciano, 1970), como um clipe de romance americano. Este recurso cansa, mas é um artifício da diretora para criar um clima agradável antes de entrar no verdadeiro tema do filme, que é o oposto, lá pelos 32 minutos, o que deixa, propositalmente, o espectador tenso e confuso.

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A ideia é o contraste da alegria com a tensão. O tema pesado, contudo, travestido de ironia que confunde e faz refletir. As rixas dos convidados, os presentes, os casos extra conjugais. Enfim, tudo fica em segundo plano para vir à tona a decisão tomada. Os ricos, que são os personagens do filme, tem direito a regalias que os mais pobres não tem, mesmo nas piores situações. Ficamos presos à trama macabra para ver se todos os personagens vão cumprir o combinado ou não.

O filme leva a reflexões sobre a vida e morte, questionamentos sobre a veracidade das informações oficiais e os direitos básicos dos mais pobres. Se os ingleses são ingênuos de acreditar em tudo que ouve, aqui no Brasil temos excesso de malícia para duvidar de tudo, ainda mais com esses políticos corruptos, não importa o partido, que crescemos vendo suas caras de pau e mentiras, uma eleição após à outra.

A Última Noite cumpre o seu papel, nos entretêm e nos faz achar tudo um absurdo só. Como na cena da Coca-Cola (que não vou me estender para evitar spoiler). O filme é como a clássica frase de Papai Noel que antes dele falar já sabemos o que vai dizer, mas queremos ouvir mesmo assim: “Ho,Ho,Ho Feliz Natal!”







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QUEM FOI QUE DISSE QUE OS ALEMÃES NÃO TEM SENSO DE HUMOR?

por Ricardo Corsetti

Filmes que retratam um futuro não muito distante, onde as relações humanas se tornariam superficiais e intermediadas por androides ou ciborgues, não são novidade na história do cinema internacional, sobretudo no gênero ficção científica. Mas na divertida produção alemã O Homem Ideal temos, na verdade, uma inusitada comédia romântica que flerta (ou brinca) com a ficção científica.

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Filme inusitado, sim, pois graças à visão de sisudos e quase insensíveis que fomos habituados a ter em relação aos alemães (sobretudo via filmes norte-americanos que se propõe a retratar a Alemanha), dificilmente imaginaríamos uma comédia romântica, sendo realizada com tamanho êxito e singeleza, justamente pelo cinema alemão contemporâneo.


Boa parte do êxito de O Homem Ideal, verdade seja dita, se deve ao talento e carisma da dupla de protagonistas - Alma (Maren Eggert) e Tom (Dan Stevens) - que, graças a uma química perfeita em cena, seguram com maestria a criativa trama envolvendo um improvável casal formado por uma cientista extremamente cética em relação ao amor e um namorado de aluguel robô (Tom), com o qual ela acaba, mesmo que a contragosto, se envolvendo ao participar de um "experimento", por necessidade financeira.


A divertida trama coescrita pela própria diretora Maria Schrader (estreante em longa-metragens) flui bem e poucas vezes recorre aos clichês típicos do subgênero Comédia Romântica de produções norte-americanas, por exemplo.

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O ótimo ator britânico Dan Stevens (O Chamado da Floresta, 2020), que, surpreendentemente, parece falar um alemão impecável, é puro carisma na pele do, digamos assim, extremamente humano namorado-robô Tom. Em contrapartida, a também ótima atriz alemã Maren Eggert (Os Invisíveis, 2018), funciona como contraponto perfeito à visão de mundo simples e otimista de seu improvável namorado mecânico (que parece ser o verdadeiro humano da relação), transbordando ceticismo em relação a tudo (e sobretudo em relação ao amor), postura essa que será aos poucos transformada pelo sempre gentil e prestativo Tom.


Grata surpresa em tempos de filmes que se levam a sério demais. Até mesmo no segmento mais comercial do cinema internacional, O Homem Ideal nos diverti e informa, com muito bom humor, o quanto a vida pode ser bem menos complicada, basta querermos.




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Também escreve esquetes de humor para internet (algumas no programa que também produziu chamado Dedo Indicador) e contos ainda não publicados. Atualmente está filmando dois curtas de sua autoria.  

 

Formado pela FACHA/RJ em Jornalismo e Publicidade & Propaganda. Fez aulas particulares com Jorge Duran (roteirista de Pixote e Lucio Flávio - Passageiro da Agonia). Fez a Oficina de Roteiro da Rio Filme e inúmeros cursos de roteiro com profissionais da área.

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