Atualizado: 11 de set. de 2024
UMA TENTATIVA DE HORROR À BRASILEIRA
por Ricardo Corsetti
Eu sempre costumo dizer que, nas últimas décadas, o Brasil (ou os cineastas brasileiros, no caso) "desaprendeu" a fazer cinema de gênero propriamente dito. Em grande parte, creio que se deve, sim, ao ego descomunal apresentado por certos diretores/cineastas brasileiros, que julgam o cinema de gênero como "algo menor" se comparado aos filmes ditos "autorais".
Nesse sentido, a recente nova onda de filmes do gênero terror, sobretudo, que vem sendo praticada por alguns diretores mais contemporâneos, aqui no Brasil, é no mínimo válida e interessante, apesar da qualidade e resultado discutível de algumas produções desta safra, tais como: o ao menos mediano O Caseiro (Júlio Santi, 2018) e o pavoroso (no pior sentido do termo) O Rastro (J.C. Feyer, 2017).
Nesse sentido, Possessões - filme de estreia do diretor e roteirista televisivo Tiago Santiago -, sim, ele mesmo, o autor da, digamos assim, no mínimo polêmica telenovela Os Mutantes (2008-2009); tem seus méritos, seja pela iniciativa de ousar ser um filme claramente de gênero, num país que, conforme já mencionei, não costuma valorizar tal iniciativa; seja pelo bom elenco escalado.
Porém, até mesmo pela clara inexperiência do diretor/roteirista em relação à linguagem cinematográfica propriamente dita, gera, fatalmente, outro problema bastante característico da cinematografia brasileira contemporânea: a não compreensão de que Cinema é uma coisa, TV é outra..
Enfim, a presença dos veteranos: Antônio Pitanga (A Grande Cidade, 1966) e da, há tempos sumida, Ittala Nandi ("Os Deuses e os Mortos, 1970); além é claro, do sempre ótimo Marcelo Serrado ("Crô - O Filme", 2008), garantem, no mínimo, verossimilhança a seus respectivos personagens, nos três segmentos (não necessariamente interligados) que compõem "Possessões".
Atualizado: 15 de set. de 2024
ANIMAÇÃO DE QUALIDADE MADE IN BRAZIL
por Ricardo Corsetti
Já há alguns anos, é inegável que o Brasil tem produzido ótimos filmes de animação, seja pelo conteúdo abordado, seja por questões técnicas. Desde O Menino e o Mundo (Alê Abreu, 2013) até Tromba Trem - O Filme (Zé Brandão, 2022), estamos "muito bem na fita", nesse sentido.
O recente Zuzubalândia, longa-metragem posterior a série televisiva homônima - originalmente exibida pelo SBT em 1998 -, escrito e dirigido por Mariana Caltabiano (Brasil Animado, 2011), por sua vez, se insere nesta já boa tradição da animação made in Brazil.
Protagonizado pela abelha Zuzu, que sonha em ser uma cantora famosa (embora seja extremamente desafinada) e terá como antagonista uma bruxa má, disfarçada de "digital influencer". É bem interessante, tanto pela divertida e oportuna trama, quanto por seus méritos técnicos.
É interessante, inclusive, o fato que apesar do tom brincalhão com o qual a trama é conduzida, há uma bem-humorada crítica/sátira ao mundo contemporâneo, onde ninguém quer mais se dedicar a profissões e tarefas convencionais, pois os indivíduos estão todos empenhados em se tornarem "celebridades instantâneas" da internet.
Iludidos pela bruxa em pele de "digital influencer", os cidadãos de Zuzubalândia abandonam suas profissões convencionais e passam a ser todos, por exemplo: designers de sobrancelhas, professores de Yoga, coachs dos mais variados assuntos, etc. E, obviamente, dentro de pouco tempo, como não é possível ao mercado absorver toda essa nova e imensa demanda de "empreendedores", todos eles acabam indo à falência e se tornam zumbis (risos).
Há também uma interessante reflexão em relação ao inestimável papel das abelhas no mundo, pois, uma vez que todas as abelhas de Zuzubalândia abandonam suas atividades de polinização das flores e vegetais; a agricultura do fictício reino, obviamente, vai à falência e a fome generalizada se instala.
Divertido e reflexivo ao mesmo tempo, em relação a questões tão essenciais ao futuro da humanidade, bem como ao de todos os seres viventes no planeta, Zuzubalândia merece mesmo, uma boa conferida.
UMA TENTATIVA DE FILME DE HORROR
por Ricardo Corsetti
É fato que nos últimos anos, de repente, meio que se tornou moda - sobretudo no cinema norte-americano - a revalorização do gênero horror e, em particular, do subgênero conhecido como slasher, que se caracteriza por temas quase sempre relacionados ao universo jovem e doses generosas de sangue.
Nesse sentido, o recente Deep Web investe nessa tendência, cometendo mais erros do que acertos, citando algumas referências óbvias ao longo de sua trama, tais como: O Massacre da Serra Elétrica (Tobe Hooper, 1974) e, sobretudo, Jogos Mortais (James Wan, 2004).
A direção, a cargo do estreante em longa-metragem Dan Zachary, é competente, bem como a fotografia do filme. Porém, há problemas visíveis que comprometem o resultado final, tais como a má realização técnica das cenas de morte e violência. E, mais ainda, o que mais prejudica o êxito de Deep Web é mesmo a incompetência do elenco, a começar pelo protagonista que, involuntariamente, quase me fez rir nas cenas em que ele simulava choro, sem ser capaz de ao menos derramar uma única lágrima.
Há também, já próximo ao desfecho da trama, uma cena envolvendo um canivete e dois cadeados que, também involuntariamente, é hilária e absurda. Porém, ao menos nos faz rir quando, em tese, deveríamos estar tensos e horrorizados.
Válido enquanto experimento de um jovem diretor, Deep Web" porém, engrossa o caldo da imensa quantidade de produções equivocadas e recentemente lançadas que se propõem a "homenagear e resgatar" o slasher dos anos 80 e 90. Melhor sorte na próxima tentativa, Mr. Zachary.


















































