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Atualizado: 15 de set. de 2023


FILME DE CANTINHO


por Antônio de Freitas


A Vingança de Jack é uma continuação de Jack Estripador: A História Não Contada (Ripper Untold, 2021) e apresenta um dos personagens principais deste filme como o personagem central da trama, que continua uma tal história não contada sobre o infame assassino que aterrorizou Londres. História esta que apresenta uma informação que se transforma em um - até criativo - “plot twist” (ponto de virada) que nesse segundo filme é o gatilho para a trama e mostrado logo no início. Portanto vai ser difícil falar sobre a trama deste filme sem contar a tal revelação do primeiro.

O jornalista Sebastian Stubb - interpretado por Chris Bell (A Herdeira, 2021) -, após a notoriedade e lucros obtidos com a exploração de manchetes exageradas sobre o famigerado assassino, vive tempos bicudos com a falta de trabalho. Um ano passou depois da interrupção da matança de Jack Estripador e Stubb mora com uma namorada que se prostitui nas ruas de Londres. Sua vida está muito complicada, as dívidas se acumulam e acabou de chegar um aviso de despejo por parte da dona do imóvel. A situação piora no jornal onde faz bicos quando, do seu jeito peculiar, exagera na notícia de um simples desaparecimento. Uma carta chega e nela um homem se apresenta como sendo o verdadeiro Jack Estripador, anuncia que está de volta e ainda dá pistas sobre quem é e onde está sua vítima.


A partir daí, assombrado por suas ações no primeiro filme, Stubb vai se jogar na caça do assassino, ameaçado pelo jornalista concorrente e com a dúvida sobre a autoria da carta. Seria o infame Jack estripador ou apenas um copiador? Qual o motivo de tê-lo contatado? Se apresentando como repórter, ele vai agir como policial e se deixar envolver de novo em um redemoinho de mistérios.


O diretor/roteirista Steve Lawson (Ripper Untold, 2021) deve ser uma pessoa bem peculiar. Escreve, produz e dirige filmes com um orçamento mínimo que fica muito aparente, apesar de dar para notar que ele se esmera nos diálogos, direção de cena e decoração de sets muito pequenos, que não dão nem oportunidade para os atores se mexerem por ali. Então as cenas se resumem em atores meio espremidos em cantinhos de cenário que até estão decorados com certa atenção.

Quase tudo é feito em planos médios e closes que, com uns diálogos até bonzinhos, em cenas longas de muita conversa fiada com discussões sobre a ética na imprensa e a capacidade de um homem assumir seus erros. Está na cara que não tem nem sets suficientes para cenas de ação. Há pouquíssimas cenas externas e algumas imagens da cidade de Londres, que foram retocadas para parecerem serem do final do Século XIX. Pipocam aqui ali para sempre lembrar onde a história se passa. Tudo isso acaba dando a este filme um ar de filme barato de televisão dos anos 70.


Apesar da pobreza de recursos, ele até consegue uns enquadramentos emocional e plasticamente bonitos, que nos faz ficar curiosos quanto ao modo em que o filme foi feito. E até perdoar os objetos que se repetem, além de uma irritante estante moderna (daquelas de montar) que aparece em várias cenas. A impressão que dá é que, se tiver um orçamento maior, este diretor será capaz de entregar um filme de respeito. Este é uma obra que só nos gera essa curiosidade. Apenas isso.




EFICIÊNCIA À TODA PROVA


por Ricardo Corsetti


Talvez o fato de eu, declaradamente, não ser um típico fã de filmes de animação, me dê a "vantagem" de uma maior isenção na hora de avaliar um filme do gênero.

E nesse sentido, até para a minha surpresa, gostei bastante do que vi em Caos Mutante, pois, em resumo, vi um filme com bom roteiro - simples, direto e bem desenvolvido -, tecnicamente bem realizado, com ótima direção e duração adequadamente enxuta.


Confesso também não ter visto os filmes anteriores da franquia que, ao que parece, foram rodados conforme o estilo live-action (filmes "com atores" bastante em alta alguns anos atrás), mas ouvi de alguns amigos - também críticos - que este novo filme, muito mais fiel ao estilo de animação clássico, aliás, é bem superior a todos os episódio anteriores. E, sinceramente, creio que só me resta concordar com a afirmação (rs).


Caos Mutante dialoga claramente e com muita competência, diga-se de passagem, com o novo público (espectador contemporâneo) ao discutir, de forma bem humorada, questões como preconceito, inadequação social, bullying, etc; e o que é melhor, sem nunca soar pedante ou "militante", ao abordar estas questões.

Além do show de efeitos especiais, o filme também nos brinda com uma prazerosa e necessária mensagem de tolerância e verdadeira aceitação às diferenças sociais e raciais por meio de personagens carismáticos, como o Papai Ratão, por exemplo.


"Caos Mutante" é diversão garantida e com bom conteúdo.




TRAGÉDIA CONHECIDA

por Antônio de Freitas


Sem Deixar Rastros é um filme de Jan P. Matuszyński, conhecido pela biografia do artista polonês Zdzisław Beksiński (1929-2005) e sua família em A Última Família (Ostatnia Rodzina, 2016) e pela minissérie O Rei de Varsóvia (Król, 2020). Obedecendo a sua vertente de crítica social e política sobre a história da Polônia, ele nos apresenta um relato sobre um fato real acontecido em 1983, quando um estudante de 19 anos foi espancado até a morte por policiais simplesmente por se recusar a mostrar seu documento de identidade.

Estamos na Polônia do início dos anos 80, ainda sob o jugo da ditadura do General Wojciech Jaruzelski (1923 – 2014) e ainda sem a força do movimento “Solidarnosc” (Solidariedade) que ainda estava crescendo, mas já gerando atrito com o Governo Comunista. Somos apresentados ao protagonista Jurek Popiel, vivido por Tomasz Ziętek (Entre Festas, 2021) e seu amigo Grzegorz Przemyk interpretado por Mateusz Górski (Monstros da Cracóvia, 2022). Os dois se mostram muito felizes por terminarem uma fase da vida, estão terminando o segundo grau e prontos para tentarem entrar na faculdade.

Saem pelas ruas comemorando e, na praça principal da cidade, uma típica brincadeira boba de adolescentes acaba chamando a atenção de um grupo de policiais que se aproximam e exigem que os dois mostrem seus documentos. Jurek atende automaticamente, mas Grzegorz se revolta e alega não ser obrigado a fazer isso. Os dois são levados à uma delegacia e Grzegorz é espancado até ficar quase desacordado e precisando ser levado a um hospital. Uma ambulância é chamada e ele é levado à um pronto-socorro onde é atendido como se fosse uma pessoa com problemas mentais devido à uma mentira contada pelos policiais. Jurek corre para acompanhar o amigo e fica ao seu lado até que morre após dois dias de sofrimento.

Nesse momento começa a trama central do filme. Jurek - este um personagem fictício que é a junção de duas pessoas reais - vai querer justiça e pretende expor a brutalidade da polícia, se apresentando como testemunha do fato. Para isso vai ter que lutar contra um sistema corrupto e decadente, acuado pelas cobranças da opinião pública do mundo inteiro e o crescente movimento que vai acabar derrubando a ditadura. O governo reage criando um labirinto de burocracia, divulgação de “fake news” à exploração do passado da mãe de Grzegorz, uma poeta ativista que já foi presa várias vezes.


Na busca pela revelação da verdade, o jovem Jurek e seus entes próximos vão sofrer por estarem tentando levar aos tribunais os responsáveis pela morte do amigo, estes, um braço armado do governo alinhado com os soviéticos, a representação do estado totalitário e seus personagens de praxe: funcionários públicos e de outras entidades que se vendem por quem pagar mais, outros que fingem não ver nada por medo ou por ganhar algum benefício com aquele sistema vigente, etc.

O diretor escolhe uma abordagem documental/realista, com uma câmera nervosa típica dos telejornais e usando uma imagem granulada para dar mais ainda a sensação de algo captado com tecnologia da época. O resultado é uma mescla de drama de época e thriller (suspense) claustrofóbico que apresenta uma evolução precisa do processo de investigação, posterior acusação e julgamento, que tem como principal testemunha o rapaz que, junto com os seus, começa a temer por sua vida e busca apoio na divulgação dos fatos. Tomasz Ziętek - que interpreta Jurek -, apesar de não ter cara de um jovem de 19 anos, interpreta com garra seu personagem e está muito bem assessorado por atores e atrizes de peso.


O resultado é um filme tenso com uma história contada em detalhes que lembra muito o cinema de Costa Gravas (Desaparecido: Um Grande Mistério, 1982) ou todo o cinema repleto de protestos dos iconoclastas da década de 70. Peca pela duração excessiva que pode cansar o espectador. Mas vale à pena ser visto por apresentar um drama repleto de detalhes que nós brasileiros conhecemos. Oportunidade para compararmos nossas experiências.


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