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Atualizado: 23 de jun. de 2023


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IDEIA ESTICADA DEMAIS


por Antônio de Freitas


A evolução da tecnologia e as plataformas de mídia proporcionaram aos artistas novatos a chance de se projetarem no mercado com suas obras. O Youtube tem servido de vitrine para todo tipo de arte visual e, sem o controle das empresas de mídia, os novos autores podem divulgar suas experimentações que avançam em todos os tipos de gêneros, lançando novos diretores/autores a posições de criadores de obras maiores. E assim é Skinamarink – Canção de Ninar (Kyle Edward Ball, 2022), o resultado do sucesso de um curta-metragem de quase meia hora que causou certa sensação no Youtube.

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Seguindo os passos de David F. Sandberg (Shazam!, 2019), que chamou atenção no Youtube com um curta-metragem de terror e o transformou em um longa-metragem muito divertido, Kyle Edward Ball marcou presença com sua obra onde uma criança acorda no meio da noite e procura pela mãe na escuridão da casa. Uma obra que faz parte do subgênero que já foi batizado de "terror analógico", curtas que se originaram por volta de 2010 e se utilizam de uma estética retrô que lhes dá uma aparência de vídeo de baixa resolução em obras que exploram sensações auditivas e visuais em histórias enigmáticas. Trata-se de um “filho” do casamento do estilo found footage e do que foi chamado de Pós-terror. Do primeiro herdou a aparência de obra não profissional com enquadramentos pouco estudados e movimentos nervosos de câmera na mão. Do segundo, o uso pesado de atmosfera e simbolismos, convidando o espectador a preencher “lacunas” deixadas pelo autor e, portanto, tornando-se um “coautor” da obra.

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Esta onda de filmes é anunciada como uma grande novidade, mas não passa de reciclagem do estilo de filmes de terror e suspense que foram deixados de lado em prol de sustos fáceis e cenas explícitas de violência com sangue voando para todo lado. Existe o lado bom de voltar a confiar na imaginação do espectador que vai povoar a escuridão com seus próprios medos e, ao interpretar os enigmas em formas de linguagem visual e sonora, vai transformar o filme em uma obra única e pessoal.

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O curta-metragem Heck (Kyle Edward Ball, 2020) explora os medos atávicos infantis e apresenta imagens envoltas na escuridão com poucos detalhes da casa vazia, sendo vistos embalados por sons diegéticos; músicas antigas misturadas a sons naturais de uma casa, como rangidos de portas e passadas. Como toda pessoa tem essa memória de acontecimentos passados, a imersão na obra é automática e muito eficaz. A sensação é de angústia e antecipação de que algo ruim vai acontecer. Sentimentos que povoaram a mente de espectadores que viram as cenas da procura da menina desaparecida e o seu balão largado (uma indicação de sua morte) em M, o Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang, 1931) ou a paranoia da protagonista de Sangue de Pantera (Jacques Tourneur, 1942).


O efeito positivo dessa pequena obra levou à criação desse longa-metragem Skinamarink que, ao contrário dos dois antigos filmes citados, não usou estas cenas para criar momentos de tensão dentro de um conjunto de momentos diferentes que formam uma “escada”, conduzindo a um clímax. O diretor apenas engordou e esticou seu curta-metragem de sequência única. Agora são duas crianças que acordam no meio da noite, zanzam pela casa procurando pelo pai e descobrem que portas e janelas desapareceram. Daí somos apresentados a cenas longas de cantos de paredes, objetos jogados com alguns detalhes estranhos em belas e tétricas imagens, que são verdadeiras obras de arte com muitos filtros para parecerem imagens fora de foco ou estragadas pela baixa resolução e estática de TV analógica. A sensação de claustrofobia é imediata, mas o tédio também, porque a experiência torna-se repetitiva e, em pouco tempo, o espectador pode ficar enjoado de tanto olhar para cantos de paredes e escutar rangidos de portas e assoalhos de madeira.


Atualizado: 23 de jun. de 2023


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TERROR TRASH DE AUTOR


por Antônio de Freitas


O palhaço Art - que é uma mistura dos roqueiros Alice Cooper e Marilyn Manson com o famoso mímico Marcel Morceau (1923 - 2007) - volta em Terrifier 2 (Damien Leone, 2022), uma direta continuação de Terrifier (2016) cuja última cena é o ponto de partida para o início deste novo filme, quando Art ressuscita e logo retoma seu péssimo hábito de trucidar quem aparece na sua frente. Desta vez ele volta como uma espécie de entidade sobrenatural e não como o louco sanguinário do primeiro filme. E não vem sozinho, com ele está uma criaturinha que poderia muito bem ser a sua filha com a famigerada boneca amaldiçoada Annabelle.

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E volta com uma produção mais esmerada, que demonstra a confiança que os investidores depositaram nessa personagem que conseguiu abocanhar um monte de dinheiro nas bilheterias e se tornar já um ícone dos filmes de terror. Não chega a ter a honra de estar no patamar de figuras míticas como Drácula ou a criatura de Frankenstein, mas pode ocupar apenas um andar abaixo de Jason Vorhees, o “zumbizão“ homicida da infindável série de filmes com o selo Sexta Feira 13. Mas vai conseguir ser lembrado pelos fãs do gênero e até protagonizar mais umas sequências se esta fizer uma boa bilheteria.


E confiando nisso, o diretor/autor entrega um filme em que se preocupa com a apresentação dos personagens, ao contrário do primeiro filme onde as pessoas apenas entravam em cena para serem esviscerados pelo palhaço louco logo depois. O ganho com a empatia do público ajuda a criar uma história mais consistente, capitaneada pela adolescente Sienna (Lauren LaVera) e seu irmão mais novo fanático por “serial killers” e filmes de terror. É “Hallowen” e Sienna se prepara para uma grande festa, ao mesmo tempo atura a chatice do caçula, que está fixado nos eventos do filme anterior e acredita que Art tem alguma coisa a ver com o falecido pai deles.


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Enquanto isso, Art “dá uma falecida” em montes de pessoas, em assassinatos para lá de sangrentos mostrados de forma explícita, com sangue e vísceras voando para todo lado. E estas cenas são o “ponto alto” do filme, que faz sucesso entre os adoradores de “terror podreira” e são o motivo do filme ser divulgado como capaz de fazer os espectadores passarem mal. Distribuindo machadadas, facadas, marteladas pela vizinhança, Art vai acabar enfrentando Sienna, que vai mostrar que não está ali para virar carne moída em um final onde o sangue vai espirrar em todas as paredes possíveis.

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Nessa segunda empreitada tentam dar maior consistência à história e personagens, além de conseguir criar uma atmosfera que lembra muito bem os “slasher movies” dos anos 80, contando até com a trilha sonora minimalista de sintetizador. Mas cometem erros como a longa duração do filme, que poderia ter uns 30 minutos a menos com a retirada de sequências inúteis como a de um certo sonho que parece ter sido feita para um choque inicial, mas não assusta porque está claro que é apenas um sonho. E de tramas paralelas como a da palhacinha mostrenga e o irmão de Sienna que só desviam a atenção que deveria estar focada na fúria insana do palhaço e sua adversária, que é até bem defendida pela atriz.


Damien Leone demonstra uma óbvia evolução quando comparamos o primeiro e segundo filme. Com mais recursos em mãos, ele tenta fazer um filme com personagens mais delineados e um subtexto onde satiriza a cultura pop americana com a junção de elementos “kistch” com o grotesco. Dá para notar um estilo pessoal se desenvolvendo e, se continuar se empenhando em melhorar, poderá entregar uma terceira obra mais aprimorada. Por enquanto ainda se apoia em cenas de extrema violência e exposição de sangue aos montes que o colocam na categoria do “trash”. O terceiro filme, que é anunciado por uma cena besta depois dos créditos, se for feito por ele, talvez defina seu destino.


Atualizado: 23 de jun. de 2023


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MAIS DO MESMO COM ALGUM CHARME


por Ricardo Corsetti


É, realmente eu já perdi as esperanças de que o anteriormente genial diretor/roteirista Neil Jordan (Traídos Pelo Desejo, 1992), volte a dirigir um grande filme, pois seus últimos trabalhos, claramente, dão sinais de esgotamento de sua obra.

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Eis também o caso do apenas mediano Sombras de um Crime, um "neo-noir" bem construído visualmente, mas um tanto sem sal em termos de desenvolvimento de trama.


E a esperança de vermos o veterano Liam Neeson (Busca Implacável, 2008) finalmente fazendo um papel minimamente diferente do que o vemos encarnando nas últimas décadas, também foi frustrada. Pois, apesar da boa matéria prima que ele tinha em mãos dessa vez - viver o célebre detetive fictício Philip Marlowe, criado pelo romancista Raymond Chandler (1888-1959) em The Big Sleep (1939) -, Neeson não consegue se libertar ou ir além dos velhos cacoetes de seus personagens de filme de ação, com movimentos coreografados em cenas de conflito físico absolutamente inverossímeis, diga-se de passagem, para um homem com mais de 70 anos.


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Jessica Lange (King Kong, 1976), infelizmente, também decepciona em seu tão aguardado retorno às telas, com uma atuação over e caricata. Obs.: No entanto, é até possível que, neste caso, se trate mais de um erro em ternos de direção pois, provavelmente, Neil Jordan deve ter pedido a ela uma atuação mais "carregada", coerente ao estilo noir em que se desencadeia a trama. Mas, sinceramente, não funcionou.


Sem dúvida, o melhor desempenho no filme, em termos de atuação, é mesmo da sempre ótima e bela Diane Kruger (Adeus, Minha Rainha, 2011), apresentando uma femme fatale de primeira, mesclando humor e drama na medida certa, ao compor sua personagem.

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Filme tecnicamente bem realizado, com um belo trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos) em ternos de reconstituição de época, meados dos anos 40 e início dos 50, a era de ouro de Hollywood. Boa fotografia também. Mas é pouco, visto que o desenvolvimento da trama é um tanto capenga, bem como o próprio desenvolvimento das personagens, que carece de um melhor aprofundamento psicológico.


Em suma, Sombras de um Crime representa apenas um razoável entretenimento passageiro para os amantes do universo (literário e cinematográfico) noir, sobretudo.



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Também escreve esquetes de humor para internet (algumas no programa que também produziu chamado Dedo Indicador) e contos ainda não publicados. Atualmente está filmando dois curtas de sua autoria.  

 

Formado pela FACHA/RJ em Jornalismo e Publicidade & Propaganda. Fez aulas particulares com Jorge Duran (roteirista de Pixote e Lucio Flávio - Passageiro da Agonia). Fez a Oficina de Roteiro da Rio Filme e inúmeros cursos de roteiro com profissionais da área.

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