Atualizado: 24 de jun. de 2023

CREPÚSCULO DE UMA DEUSA
por Ricardo Corsetti
Divertida comédia dramática a respeito de um charmoso casal de vigaristas e aproveitadores profissionais, vivido por Pierre Niney (Golias, 2021) e pela bela e charmosíssima Marine Vacth (Jovem e Bela, 2013).

O principal mérito de A Farsa, aliás, reside na qualidade de seu elenco que conta ainda com o excelente François Cluzet (Intocáveis, 2011) e também com a ex-diva suprema do cinema francês Isabelle Adjani (Possessão, 1981).
Observação pertinente: ao lado da outra Isabelle (Huppert) de A Professora de Piano (Michael Haneke, 2002), por exemplo, mademoiselle Adjani sempre foi uma de minhas atrizes preferidas, mas, após ver seus mais recentes trabalhos, uma conclusão é inevitável: ela realmente não é mais a mesma. E não digo isso apenas por conta de sua atual aparência física, claro que não. Mas é fato que tal aparência, onde já não é possível encontrar qualquer expressão facial, obviamente, acaba comprometendo seriamente seu desempenho como atriz. Fato realmente lamentável.

O desenvolvimento da trama acaba pecando um pouco pelo excesso de reviravoltas, às vezes desnecessárias. Mas, em termos gerais, funciona muito bem graças a um elenco - em sua maioria - muito afinado, que nunca deixa a coisa desandar.

Filme charmoso e elegante, com destaque para um belo trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos), onde há inclusive - nas entrelinhas - um certo "Q" de crítica/sátira à hipocrisia das convenções sociais presente no universo da burguesia francesa, mas que, cá entre nós, caracteriza o universo das elites em qualquer lugar do mundo.
Um filme tipicamente europeu, cuja sutileza com que se apresentam determinadas situações, dificilmente seria vista num filme norte-americano, por exemplo.
Atualizado: 24 de jun. de 2023

RELAÇÕES SOCIAIS (OU AUSÊNCIA DE) NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
por Ricardo Corsetti
Singelo e divertido filme sobre a superficialidade das relações humanas no mundo contemporâneo, caracterizado pela frieza das redes sociais e quase total ausência de interação real entre os indivíduos.
Pronto, Falei se insere na tradição da comédia romântica nos moldes norte-americanos, mas o faz com personalidade, adaptando sua linguagem ao humor brasileiro.

A perfeita sintonia entre o afinado elenco, capitaneado pelo jovem Nicolas Prattes (O Segredo de Davi, 2018), vivendo o tímido revisor de textos, Renato, é realmente perfeita.
Destaque também para o personagem vivido por Rômulo Arantes Neto (Quem Vai Ficar com Mário?, 2021), um autêntico "amigo da onça". O eterno "galã cafajeste" das telenovelas, realmente mostra aqui, bastante talento dramático.
E a belíssima Duda Santos (estreante em longa-metragem), também rouba a cena ao viver a injustiçada jornalista investigativa de um grande jornal.
O experiente diretor de séries Michel Tikhomiroff (A Garota da Moto, 2016), mostra talento também para o cinema e, sobretudo, para o eficiente trabalho de direção de atores.

Longe de ser o mais original filme já realizado em terras brasileiras e apesar de suas claras referências ao já citado subgênero norte-americano Comédia Romântica, Pronto, Falei no entanto, graças a seu roteiro simples, mas muito eficiente e simpático, tem tudo para ser o filme perfeito para ser assistido neste fim de ano, período sempre caracterizado pelas reflexões a respeito do rumo e escolhas que determinam nossas vidas.
Atualizado: 24 de jun. de 2023

OVERDOSE DE "AMERICANISMO"
por Ricardo Corsetti
Típico filme que prima muito mais por seus méritos técnicos do necessariamente pela história/trama abordada, Irmãos de Honra se insere claramente na tradição dos filmes ufanistas e de propaganda Internacional do american way of life (estilo de vida norte-americano).

A trama baseada na história real de Jesse L. Brown (1926-1950), o primeiro aviador negro das Forças Armadas da terra do Tio Sam, poderia ser retratada de uma maneira bem menos apelativa e altamente ficcionalizada, não fosse a necessidade de se exaltar, como sempre, a sacrossanta América como "terra das oportunidades" e autêntico "oásis de democracia" (embora durante a época aqui abordada, indivíduos negros ainda fossem pendurados em árvores e enforcados em determinadas regiões dos EUA, com a conivência e omissão estatal).
E a verdade é que, até mesmo os méritos técnicos de Irmãos de Honra são um tanto discutíveis, visto que as cenas de batalha aérea durante a Guerra da Coréia (a melhor coisa do filme, sem dúvida), demoram muito para, de fato ocorrerem, numa trama arrastada e por vezes cansativa, onde as 2 horas e 19 minutos de duração do filme, em determinados momentos, pesam como chumbo, devido ao aparente pouco talento narrativo do jovem diretor e roteirista J.D. Dillard (O Mistério da Ilha, 2020).

Me incomoda também a figura de um indivíduo (protagonista) que, na prática, nunca está de fato lutando contra um sistema baseado na exclusão racial e social, mas sim, para ser incluído neste mesmo sistema. Ao passo que o filme apresenta este ato extremamente incoerente como algo a ser louvado.
Voltando a falar sobre questões técnicas e narrativas, é praticamente impossível não ser tentado a ver Irmãos de Honra como uma espécie de Top Gun (Tony Scott, 1986) transposto à época da Guerra da Coréia. Falta, porém, ao jovem J.D. Dillard o talento narrativo do saudoso Scott (1944-2012).
Em síntese, a verdade é que pouco mesmo se salva no filme, com exceção de algumas boas cenas de batalha aérea, etc, que, em relação ao incômodo que me causa a nauseante propaganda ideológica relativa ao "heroísmo" da eterna "polícia do mundo" (EUA), não me confortam nem um pouco.









































