Atualizado: 1 de jul. de 2023

SUPERANDO O PRECONCEITO AO "DIFERENTE"
por Ricardo Corsetti
Em tempos de politicamente correto ditando as regras na produção audiovisual contemporânea, nada mais lógico do que um filme destinado ao público adolescente abordar a questão do bullying (agressão física ou verbal sistemática em relação aos indivíduos tidos como "diferentes" no meio social em que vivem).

Nesse sentido, o drama musical Querido Evan Hansen acerta ao demonstrar como, muitas vezes, justamente aqueles que adoram falar em respeito e tolerância às diferenças, inclusão social, etc; acabam cometendo as mesmas injustiças às quais, ao menos em seu discurso cotidiano, condenam veementemente.
O diretor norte-americano Stephen Chbosky (As Vantagens de Ser Invisível, 2012) demonstra familiaridade com o tema, pois vem abordando-o desde a época de seu já clássico filme adolescente citado.
Neste seu mais recente trabalho, porém, embora demonstre talento e competência narrativa, o diretor acaba pesando um pouco a mão na, digamos assim, dose de açúcar (dramaticidade) excessiva de algumas cenas. Mas, até aí, é compreensível o fato de que estamos falando de um filme produzido por um mega-estúdio (Universal Pictures) que obviamente necessita fazer determinadas concessões para ser de fato "acessível a todo tipo de público".

O jovem Ben Platt (A Química do Amor, 2020) acerta no tom ao viver o extremamente tímido personagem título, encarnando com perfeição a figura do típico adolescente em crise de identidade e buscando seu espaço no ultra-competitivo microcosmo característico do universo jovem, talvez em qualquer lugar do mundo.

A sempre ótima Julianne Moore (A Mão que Balança o Berço, 1993) por outro lado, poderia ter sido bem melhor aproveitada, pois aparece pouco no filme, como a sempre ocupada mãe do solitário protagonista.
Amy Adams (A Mulher na Janela, 2021) por sua vez, distante do estereótipo da bela atriz adolescente de outros tempos, surpreende ao viver a mãe possessiva e deprimida do "amigo" de Evan Hansen, a partir do qual toda a base da trama irá se desenvolver mais adiante.
Entre erros e acertos Querido Evan Hansen cumpre bem sua função enquanto entretenimento informativo, acerca de questões seríssimas relacionadas à sempre dificílima transição da adolescência para o mundo ainda mais imperfeito e complexo dos adultos.
Atualizado: 1 de jul. de 2023

SINGELEZA SEM NOVIDADES
por Ricardo Corsetti
Filmes de animação que abordam a destruição do meio-ambiente já não são propriamente uma novidade em qualquer lugar do mundo. Da megaprodução norte-americana Pocahontas (Mike Gabriel e Eric Goldberg, 1995) ao ótimo filme de animação brasileiro Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi e Jean de Moura, 2013), o tema em questão já foi abordado em larga escala.

O recente Ainbo: A Guerreira da Amazônia se insere com competência neste segmento, mas sem apresentar grandes novidades narrativas ou mesmo técnicas ao tema.
A pequena Ainbo, pertencente à aldeia de Candamo, situada no interior da grande floresta amazônica, em companhia de "Dillo" (seu amigo Tatu) e da enorme anta conhecida como "Vaca". Irá tentar fazer de tudo para combater gananciosos garimpeiros que desejam explorar, de forma irresponsável, o ouro situado no território de seu povo. Auxiliada pelo "espírito materno da Amazônia", no caso uma tartaruga chamada "Motelo Mama", a garota e seus amigos se empenhará nessa perigosa missão.

O diretor Richard Claus (Meu Amigo Vampiro, 2018) mostra competência na condução da singela trama, mas sem necessariamente acrescentar qualquer novidade a tudo aquilo que já vimos, por exemplo (e de forma mais competente, diga-se de passagem) nos filmes de animação citados no primeiro parágrafo.
"Ainbo" cumpre bem sua função enquanto entretenimento informativo graças à inegável relevância do tema abordado, num momento em que preservação ambiental associada à responsabilidade social na forma como exploramos os recursos naturais ao redor do mundo é palavra de ordem, bem como a garantia de nossa sobrevivência a longo prazo. Apenas creio que o filme poderia ter se empenhado um pouco mais em buscar um autêntico diferencial em relação a tantos outros títulos (seja no campo da animação, seja no campo da produção convencional com elenco orgânico) que já vimos nos últimos anos.

RECICLANDO UM PROJETO AMALDIÇOADO
por Ricardo Corsetti
Em primeiro lugar, ao ver o recente remake (se é que podemos mesmo assim considerá-lo) do clássico Duna (David Lynch, 1984) pelas mãos de Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, 2017), impossível não pensar no que poderia ter sido o projeto original idealizado pelo artista multimídia Alejandro Jodorowsky (A Montanha Sagrada, 1973), abortado pelos produtores naquela época (por volta 1982/83), jamais realizado, portanto, da forma como Jodorowsky o imaginou e que, no fim das contas, em 1984, acabou virando um filme meia-boca nas mãos de Lynch (Cidade dos Sonhos, 2001).

É difícil, aliás, comparar a versão repaginada de Villeneuve (diretor e co-roteirista) com a de Lynch, pois, desde a época dourada das locadoras de vídeo aqui no Brasil, eu nunca mais tive a oportunidade de rever a tal versão "lyncheana", o que me impede, portanto, de poder fazer uma comparação entre as duas versões de forma mais aprofundada. Me arrisco a dizer, porém, que provavelmente o que a nova versão deve ter perdido em termos de um maior aprofundamento temático, ganhou em termos de fluência narrativa, graças ao inegável talento como diretor do franco-canadense Villeneuve.

E olha que eu, sinceramente, nunca fui lá muito fã do estilo pseudo-autoral e cheio de "perfumarias" (preciosidades desnecessárias) do diretor. Não gosto, por exemplo, do que ele fez há poucos anos com outro clássico absoluto, em Blade Runner 2049, mas aqui seu estilo parece estar um pouco mais amadurecido e "enxuto", o que lhe permitiu realizar um trabalho em que, se por um lado transformou este clássico da literatura internacional num filme de entretenimento e candidato a blockbuster, por outro lado nos oferece um autêntico espetáculo em termos visuais, com planos belíssimos, espetacular fotografia e um ritmo narrativo competente a ponto de não cansar o espectador, apesar da extensa duração do filme: 2 horas e 35 minutos.

A bela atriz sueca Rebecca Ferguson (Caminhos da Memória, 2021) é puro charme a cada segundo em que aparece em cena como a mãe do protagonista. E o jovem Thimothée Chalamet - eternamente lembrado por Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino, 2017) - até que não decepciona como protagonista.
Em suma, um autêntico primor em termos técnicos, por mais longe que possa estar daquilo que um dia foi imaginado pelo chileno mais francês deste mundo Alejandro Jodorowsky, o Duna de Villeneuve, com certeza, irá agradar quem espera ver uma mega produção com toques autorais. E, detalhe: vem continuação da saga logo mais...









































